33 anos. Esse foi o tempo levado até que uma nova história sobre o universo pensado por George Lucas fosse criado, e, desde o retorno de Jedi (1983), a saga de Star Wars prescindiu de novo filme que retomasse o sentido que a franquia original apontou para história do cinema. Retomada essa que estamos a testemunhar com J.J Abrams e seu magnífico Star Wars: O Despertar da força.
30 anos após a derrota do império galático, a galáxia encara uma nova ameça, na figura de Kylo Ren ( Adam Driver) e a Primeira Ordem. Mas, quando um desertor das tropas imperiais chamado Finn vai parar em um planeta deserto, encontra Rey (Daisy Ridley), uma andarilha cujo droid (BB8) contém um mapa ultra secreto. A jovem dupla, então, une forças com Han Solo (Harrison Ford) na luta contra as forças sombrias, ao mesmo tempo em que buscam o paradeiro do então último Jedi vivo, Luke Skywalker ( Mark Hamill).
Dizer que o episódio VII é um épico seria exagero. Mesmo porque o gênero não se enquadra na alcunha do filme em questão. Mas, O Despertar da Força empolga. Porque estamos diante de um trabalho de celebração. Que mexe com afetos e o imaginário de muitas gerações. A nossa, dos nascidos no final dos anos 1980 e os de nossos pais, que já acompanhavam as primeiras guerras nas estrelas desde o fim dos anos 1970.
Usar o termo celebrar, portanto, diz muito do que este mais recente Star Wars significa. Nos inúmeros traços de que o filme se tece, a sua diegese vai diretamente ao seu encontro disso. O seu tempo fílmico é muito demarcado pelo legado que a trilogia iniciada com Uma Nova Esperança (1977) deixou. Em termos absolutos, estamos falando das escolhas de J. Abrams durante a realização.
A utilização parcial no uso dos efeitos visuais é um desses pontos. E, se na trilogia prequela, realizada de 2001 a 2005, o uso do croma key fora aplicado à exaustão, nesta trilogia sequela a ordem da realização retoma as linhas da obra original. Assim, os recursos de computação gráfica se limitam às explosões e a algumas tomadas especificas, como a entrada de Ren na primeira sequência.
O resultado é a impressão de um ar muito mais verossímil no universo que a obra explora. Estamos a ver um filme, mas enquanto obra de ficção ele se faz por meio de tudo o que cenários reais e atuação dos atores – que interagem entre si e isso é algo que retorna Star Wars – tem a oferecer. A maneira como Abrams aplica as referências no longa acaba convergindo pra essa “teia conceitual” no qual ele se reveste.
Esse referencial é percebido principalmente no percentual de traços contidos nos episódios IV ao VI, agora também presentes neste sétimo episódio. Assim como Luke, temos as figuras de Finn e Rey, a descoberta das potencialidades no uso da força, por exemplo. As tropas imperiais, da mesma forma, são interpretadas por caracteres reais. Atores que não estão diluídos numa massa computadorizada tal qual vimos nos Episódios I ao III. Esses personagens têm falas e são muito mais do que uma figuração feita no computador. Ao que tudo indica, a capitã Phasma têm papel muito relevante nos episódios que virão.
Por ser um trabalho de fan, O Despertar da Força celebra tudo que o universo de Star Wars evoca. Algumas sequências são verdadeiros flashbacks vistos em episódios anteriores. Do Episódio IV de 1977 temos a tentativa de destruição pela resistência da Estrela da Morte. Do Episódio V (1980), assim como Luke encara Lorde Vadder numa elevada plataforma, Han Solo tem um embate com Kylo Ren. São situações que em outra ordem poderiam ser interpretadas como repetitivas ou não originais. Em outros filmes sim, mas não nesse Star Wars assinado por Abrams.
Porque manter um elo referencial com a trilogia original foi intento da direção. Uma decisão muito sensata ante o sedutor desejo de se fazer algo maior ou “ainda não visto”, mas tudo já foi visto e Abrams entende tão bem isso que decidira na celebração trazer uma mais recente roupagem à saga. Unindo harmoniosamente elenco original com o mais recente casting revelado. Um encontro de gerações de artistas e público.
Importante considerar a dimensão política que esse sétimo episódio sugere. Nas imagens da Guerra temos uma síntese dos equívocos da história. Os planetas que a Estrela da Morte devasta nos dão a implacabilidade das bombas atômicas, ainda reais ameaças nas mãos das nações. As tropas imperiais surgem como representação direta dos regimes fascistas, leia-se nazismo. A opressão contra a liberdade; o cerceamento contra a democracia, são bases conceituais pinceladas também em O Despertar da Força, que eleva isso em alguma potência. E que assume a esfera política em alguma medida. Tal discussão sem dúvida é sempre bem vinda, logo necessária. Mesmo quando estamos na sala escura e imersos na fantasia das estrelas e no universo fantástico que Star Wars nos oferece.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Star Wars: The Force Awakens
Gênero: Aventura, Ação, Fantasia
Tempo de duração: 135 minutos
Ano de lançamento (USA): 2015
Direção: J.J.Abrams