Em um conflito armado, o desafio militar e estratégico é vencer o inimigo. Importam as armas, a logística, a destruição de alvos vitais, sejam eles civis ou militares.
Pouco significam as consequências de uma eventual derrota ou de uma vitória triunfal. Vale a vitória a qualquer preço. A conquista, a aniquilação dos inimigos designados pelas artes dos magos da geopolítica.
Átila será, para sempre, a imagem mais clara e verdadeira da ação guerreira, a encarnação da desconstrução dos feitos ameaçadores dos contendores ancestrais.
A destruição como estratégia de conquista e aniquilamento não leva em conta vidas poupadas ou perdidas. Tampouco consideram razões e circunstâncias que estejam na origem dos conflitos bélicos.
O inimigo é apenas um alvo. As razões pelas quais o inimigo se tornou “inimigo” não têm importância para o pensamento guerreiro e para a visão que esses enviados da morte têm do seu ofício.
Átila valia-se com orgulho da sua força e do temor que despertava nas gentes: o “flagelo de Deus” varreu a Europa com suas conquistas inúteis, com as patas dos seus cavalos, marcas que deixavam nas terras calcinadas a marca da sua trágica passagem.
A destruição da Ucrânia lembra a tragédia de Lídice, na II Guerra. A imposição de um castigo severo a populações desarmadas. O fuzilamento de todos os homens de um pequeno vilarejo varrido pelas tropas da wermarcht. Mas traz, também a recordação de uma diplomacia muda e subalterna que se deixou levar pelas decisões do Estado Maior da União Europeia, do Pentágono e da OTAN. Sem contar com a visão messiânica de Pútin — a da reconquista pela força do esplendor militar e ideológico da extinta União Soviética. E o retorno ao recurso dos dogmas da revelação marxista, sacrificados pelo advento do capitalismo de Estado, o mesmo que construiu o Ocidente e deu à velha Rússia o combustível dos novos tempos.
Nada parece ter mudado na significação real da guerra, desde Aníbal e Alexandre, de Gengis-Khan e de Stalin.
Kiev será o monumento trágico erguido às artes de Marte, à consagração da diplomacia bélica e à morte da diplomacia, da razão e da civilização.