A literatura é o sorriso de uma sociedade — banguela: somos todos meio filhos do escorbuto (ai, a súbita vontade inexplicável de fazer essa declaração no mais dantesco toscano). Uma bela pobreza em preto e branco, sob uma crua luz de cinema novo, a necessidade de lembrar a Glauber Rocha que graças a Deus não somos santos, graças a Deus não somos santos, graças a Deus não somos santos (minha oração diária, um mantra até que eu me esqueça de mim). O sorriso banguela dos que querem morder e, além da ausência dos dentes, sofrem a falta da comida. Carência. Não há carne disponível à nutrição nem ao sexo. O sexo, o sexo, o sexo, um mantra noturno e, mesmo a dois, tanta vez tão solitário. Pedem que sejamos elegantes e sofremos porque é muito inadequado sermos elegantes. Pedem que sejamos deselegantes e sofremos porque isso nunca nos ensinaram: a dor mais lancinante exige um verso exato e frio. Os desastres da prosa? Mas tropeçamos feito bailarinos! Quem seria esse mestre da ruína que não temos olhos de saber se parece mais com Deus ou com o diabo? Quem? Onde? Enfim, quando?
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