RASGANDO O MUNDO

Uma amiga me mandou a seguinte mensagem:

“Hoje acordei com uma dor de cabeça infernal! Exagerei no queijo à noite. Tive um sonho confuso contigo. Era tudo rápido e sem filtros. Coisas da vida real. Acordei…,mas a primeira sensação que tive foi que você está rasgando o mundo! Esquisito demais! Mas também muito bom!!! Tinha que compartilhar isso contigo. Um abração!”

 

“Rasgando o mundo?” Fiquei parada, encarando a mensagem, tentando decifrar o que Graça — sempre cheia de metáforas imprevisíveis — quis dizer. Logo ela, a mestra das gargalhadas, vinha com uma visão quaseapocalíptica. Me imaginei, por um instante, como uma guerreira, espada em punho, rasgando o mundo como quem corta um tecido mal costurado. Será que estou abrindo caminho, rompendo barreiras? Ou será que essa visão dramática era simplesmente o efeito colateral do exagero de queijo que ela mesma mencionou na mensagem?

 

Graça, nome profético, é dessas raras pessoas que transformam qualquer situação em comédia, mesmo quando o cenário pede drama. Ela tem uma leveza ao rir de si mesma que poucos dominam. Embora seja uma ouvinte atenta, falante é pouco para descrevê-la! Quando começa a falar, suas palavras fluem como um rio, carregando todos junto — não para nos afogar, mas para nos envolver em suas histórias e risadas intermináveis.

 

Seus comentários imprevisíveis surgem como aqueles sustos que logo se transformam em gargalhadas. E se a vida lhe apresenta um cenário digno de lágrimas, ela prontamente o transforma em piada, como se dissesse: “A vida é séria, mas nem tanto.” Essa habilidade de transformar o cotidiano pesado em algo leve é um convite irresistível para encarar as coisas de forma mais suave.

 

O bom humor, para Graça, não é apenas uma característica, mas uma verdadeira filosofia de vida. Ele tem o poder de transformar tudo ao redor, suavizando as arestas da vida e tornando os desafios mais suportáveis. Rir de si mesmo, dos problemas, é um dom raro e precioso, algo que poucos dominam, mas que todos podem aprender a compartilhar.

 

O riso, no entanto, vai além do ato simples de rir. Ele abre portas onde antes só havia obstáculos, uma forma de “rasgar o mundo” sem ser esmagado pelas adversidades. É uma maneira de resistir e lembrar que, por mais difíceis que sejam as circunstâncias, elas não precisam nos derrotar. Celebrar o bom humor é celebrar a vida em todas as suas nuances, viver com leveza, sem perder a profundidade do que realmente importa.

Monica Moreira da Rocha

Economista, servidora pública aposentada, ex-auditora da Receita Federal do Brasil.

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