A campanha começou oficialmente. Os candidatos foram registrados e os institutos (MDA, IBOPE e DATAFOLHA) divulgaram a primeira rodada de pesquisas da campanha presidencial. A liderança do ex-presidente Lula é avassaladora – se aproxima dos 40%. Cresceu em todas as regiões, faixas de renda e escolaridade. Ganharia no segundo turno com certa facilidade. Bolsonaro, para surpresa do mundo político, consolida-se com 20% do eleitorado. Marina, Ciro e Alckmin patinam com apenas um digito. Os outros candidatos não decolaram. Lula encontra-se preso e, dificilmente, estará livre para fazer campanha. O desafio petista é conseguir transferir votos para Fernando Haddad. Com uma série de denúncias envolvendo Lula e um antipetismo cada vez mais aguerrido, muita gente apostou que o lulismo seria repertório do passado. A realidade ganhou novos contornos. Como podemos explicar essa força política?
O cientista político André Singer popularizou o termo lulismo. Segundo Singer, esse modelo surgiu em 2006 com a eclosão do “mensalão”. Após o escândalo, a classe média se alinhou com as forças de centro-direita e os mais pobres passaram, pela primeira vez, a votar em Lula e no PT. Essa mudança não ocorreu por acaso. O grande lema dos governos do PT foi aliar crescimento econômico com redução das desigualdades sociais, refletindo diretamente na criação e/ou ampliação de políticas sociais e econômicas, com destaque para ativação do mercado interno. De 2004 a 2014 houve melhoria significativa no padrão de consumo da metade mais pobre da sociedade, que se encontra, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste. Programas sociais, investimentos no acesso e ampliação de centros universitários e em programas da área da saúde, desencadearam o apoio maciço de grande fatia do eleitorado brasileiro. Esse fenômeno foi acionado com sucesso nas campanhas nacionais e estaduais.
26O lulismo sofreu seus primeiros abalos com as manifestações de 2013. A vitória apertada em 2014, o fiasco econômico e posterior impeachment de Dilma, além do fracasso nas eleições municipais de 2016, pareciam ter colocado o lulismo no segundo plano do jogo político. Entretanto, o avanço da Operação Lava Jato e a prisão de Lula em abril, fizeram o cenário mudar. Desde maio de 2018, os índices de popularidade do ex-presidente crescem de forma consistente. A tese da perseguição política parece ter prosperado! Um fator decisivo no renascimento do lulismo foi o governo Temer. As reformas impopulares e a persistência da crise econômica contribuíram decisivamente para reascender a memória do tempo de bonança do lulismo. A propaganda eleitoral no rádio e na TV terá início em 31 de agosto. É a grande aposta de Geraldo Alckmin, detentor do maior tempo, para reverter esse quadro e disputar o segundo turno. As forças de centro-direita, lideradas pelo PSDB e associadas às bandeiras de Temer, têm dois desafios gigantescos: disputar espaço com Bolsonaro e frear o processo de transferência de capital político para Fernando Haddad. Vamos aguardar os próximos movimentos dessa disputa imprevisível!