Precisamos falar do Ceará…Parte 17

Esta sequência de textos com o título “precisamos falar do Ceará” não vai muito além de uma reclamação direta e aberta às lideranças (intelectuais, empresariais, políticas) no sentido de que elas abram, ampliem e aprofundem o debate sobre a realidade de um estado pobre, desigual, atrasado e injusto, e, já quase indo além dos meus tamancos, dar indicações de uma pauta, modesta, mínima que seja.

Para este décimo-sétimo texto, o desafio era tirar do noticiário regular da semana algum evento relevante (concretamente ou potencialmente), mas tratado com a superficialidade habitual, de forma conveniente e inconsequente. Eis quatro deles.

1. A sociedade talvez deva colocar atenção numa luta que se anuncia no horizonte. A Associação Cearense de Imprensa reúne mais que só jornalistas, e pode abrir-se ainda mais e exercer uma liderança cultural decisiva. O Ceará é carente e precisa e muito disso, com a licença dos ufanistas e dos conformados. Perto de se tornar centenária, tem estrutura e patrimônio expressivos (sede própria, grande auditório, hemeroteca, biblioteca, espaço para cafeteria, livraria e eventos, sem falar do patrimônio imobiliário). Fazia tempo que a eleição de seus dirigentes não era sequer disputada. Agora anuncia-se uma batalha pelo voto de seus trezentos e poucos associados, e não está clara ainda a razão e a motivação, para não falar de interesses.

2. Saíram na rede eletrônica informações dispersas sobre a iminente formação de um conselho especial de ex-governadores. Parece óbvio que a experiência e as visões de tais homens (sim, só homens, por enquanto) públicos são um ativo de enorme valor. Dependendo de como a iniciativa se define, se orienta e se organiza, ela pode ser útil e provocar avanços. Ou apenas se juntará a outras que pouco ou nada têm a propor ou inovar, apenas compõem o quadro de uma inércia geral.

3. Um time de talentos da ciência econômica, lideranças intelectuais, figuras de responsabilidade pública, criaram a Academia Cearense de Economia. As notícias foram rasas. Mesmo assim, o grupo (por sua qualidade e compromisso) gera uma poderosa expectativa positiva de um desempenho superior. Veja uma definição de economista, por JM Keynes: “O economista deve possuir uma rara combinação de dons. Ele deve ser matemático, historiador, estadista, filósofo – até certo ponto. Ele deve entender símbolos e falar em palavras. Deve contemplar o particular em termos do geral e tocar o abstrato e o concreto no mesmo patamar do pensamento. Ele deve estudar o presente à luz do passado para os propósitos do futuro. Nenhuma parte da natureza humana ou de suas instituições deve estar inteiramente fora de seu olhar. Ele deve ser resoluto e imparcial em um estado de espírito simultâneo; tão remoto e incorruptível quanto um artista, mas às vezes tão perto da Terra quanto um político”.Imagine agora a quantidade e a profundidade das coisas que são esperadas de uma Academia de Economistas do Ceará.

4. Autoridades do Governo do Estado compareceram à solenidade de inauguração de um novo investimento no Porto do Pecém, no valor de 770 milhões de reais. Era o que dizia a notícia. Só.

Examinadas pontualmente, parecem coisas banais, irrelevantes. Não são, tanto pelo que dizem, quanto pelo que não dizem. Elas falam de poder e de dinheiro, quando juntam política, economia e comunicação.

Precisamos mesmo falar do Ceará?!

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