Pré-leitura do livro PRIMEIRO EU TIVE QUE MORRER, de Lorena Portela

A AUTORA

Lorena Portela tem formação em Jornalismo e experiência profissional em publicidade. Trabalhou na área de criação de agências de propaganda. É colunista da revista Arribação. Mora em Londres.

A PUBLICAÇÃO

O livro “Primeiro eu tive que morrer“, de autoria de Lorena Portela, foi lançado em 2020, edição da autora, com 137 páginas. É romance de estreia. Todas as etapas do livro foram feitas por mulheres (diagramação, revisão, edição final, capa), inclusive as 10 ilustrações, por 10 artistas plásticas.

CIRCUNSTÂNCIAS

Uma profissional de publicidade vê sua vida perder qualidade e sentido, pressionada pelo ambiente tóxico no trabalho, marcado por assédio, exploração e falta de reconhecimento, e fora dele, por relações rasas e insatisfatórias. O estresse se avoluma e se torna doentio. Ela se sente como se estivesse morta, ou morrendo, deixando de viver ou se deixando morrer, daí o nome do livro. No limite da perda do equilíbrio, ela para tudo e vai para uma comunidade no litoral, Jericoacoara, em busca de recuperar a alegria de viver, reencontrar-se. O livro relata os eventos que se desdobram nesses dias e a levam a experimentar o paraíso e uma crise aguda.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Lorena Portela escreve sobre a alma feminina. Este é um livro sobre a mulher, sobre as muitas mulheres, como Amália, Ana, Gloria, Guida, Luana e Sabrina e a consequência de

suas relações também com homens. Não há discurso feminista, não de forma explícita. Há uma história sobre a dor, a beleza e a aventura de ser mulher, com momentos de amor intenso. A autora consegue prender a atenção do começo ao fim, fixa com destreza o perfil dos personagens e emociona na hora H. Jericoacoara fica muito bem no livro – o texto mais sugere do que a descreve – a partir da sua luz e das suas águas (do mar, das lagoas, da chuva…) encantadas.

O LIVRO

As primeiras páginas do livro são de grande impacto. A autora descreve seu ambiente de trabalho na agência de propaganda e relata todo o constrangimento que sofre seguidamente em forma de assédio e exploração profissional. Na sequência dos eventos, o cenário deixa de ser de escritório e passa para uma espécie de paraíso natural, os personagens são outros, bem diferentes.

O romance de estreia de Lorena Portela é cheio de sabores e eventos habilmente descritos, num ritmo tão natural e com uma linguagem tão honesta que o leitor (ou leitora) poderá se perceber personagem e talvez até sentir a água morna correr-lhe o corpo no mar e prender a respiração durante um mergulho.

CURTAS (INSIGHTS)

“O meu coração parece que vai quebrar a porta do peito.

“Mulheres são cruéis com mulheres. Homens são cruéis com mulheres.

“Eu achei que estávamos bem lindas na foto. Felizes. Pena que era mentira.

“Jeri é a imagem do verão e todo rosto que se olha parece estar feliz, grato de estar ali.

“Tudo que existiu não inexiste nunca mais.

BONS MOMENTOS (Ideias Centrais)

“Dentre as competências do meu diretor de criação estava a de duvidar de ideias boas do restante da equipe, apenas porque não tinha sido ele o cérebro por trás delas. Também era deveras competente em, acidentalmente, mandar fotos não solicitadas do próprio pênis numa conta do Snapchat que eu usava pouco. Geralmente, o “acidente“ acontecia de madrugada. Ainda era bom em gastar metade do salário – alto – em cocaína. Que, por vezes, cheirava no banheiro da agência mesmo. Mas, para isso, eu não dava a mínima.

“Eu gosto de pensar que estamos vivendo, eu e tu, uma coisa que não é definida no conceito nem do espaço, nem do tempo. Porque isso, nós duas aqui nessa cama, está acontecendo hoje, sim, mas está acontecendo para sempre também. Nós estamos aqui e estaremos em outros lugares, tão logo nos movamos, e isso segue com a gente. E porque estamos aqui, nesta cama, neste hoje, determinamos acontecimentos diferentes dos que aconteceriam se estivéssemos em outros lugares.

“Agora olha para mim. Olhe bem aqui, porque agora eu que te digo. Também não é culpa sua. Você precisa entender. Como também não foi minha. Você não precisa se punir porque as pessoas foram más com você, ou lhe viraram as costas, lhe abusaram, quando lhe disseram que você não é boa o suficiente. Quando seus sonhos morrerem. Quando todo o resto se for. Você está no seu caminho. Não falta absolutamente nada em você.

“Eu não gostei do que fizestes ontem. Eu sei que estás acostumada a se relacionar com homens, que eles são maiores e mais fortes…não sei que tipo de coisa curtes, nem as coisas estranhas que já fizestes na vida, não me interessa saber. Tu és livre. Mas eu não gosto e não vou permitir que me machuques.

“A ideia da massagem naquele visual, com a luz de fim de tarde e aquela brisa no corpo, me pareceu a saída perfeita para esquecer a dor que me cortava e evitar chorar na frente da Amália. Aceitei sem pensar duas vezes. Sentei na cadeira, com o apoio para o rosto entre as minhas pernas, enfiei o rosto naquele buraco que fica no encosto e aguardei que ele começasse. Antes de começar, o rapaz me ofereceu um trago do seu cigarrinho.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.