Pré-leitura do livro “O X da questão”, de Eike Batista

O AUTOR:
Eike Fuhrken Batista nasceu em Minas Gerais, em novembro de 1956, segundo filho de uma família de sete irmãos. É graduado em Engenharia, fala cinco idiomas. Casou em 1991 (com Luma de Oliveira, com quem teve dois filhos, Olin e Thor) e separou-se em 2004. Seu primeiro emprego foi como vendedor de seguros. Depois fez fortuna como empresário do ramo de mineração. De 2001 a 2010, lançou seis grandes empreendimentos (Grupo EBX), captando US$26 bilhões via abertura de capital em bolsa de valores. É filho de Eliezer Batista, que elaborou e deu vida ao Projeto Carajás, que deu à Vale o status de uma das maiores e mais bem-sucedidas empresas do mundo.
AS CIRCUNSTÂNCIAS:
Eike Batista ganhou um bilhão de dólares nos primeiros vinte anos como empreendedor, inicialmente focado em mineração. Comprou os direitos de exploração de algumas minas de desempenho medíocre e explorou-as de maneira inovadora. Depois as vendeu  para grandes empresas com lucros enormes. O livro é o relato do começo, meio e fim dessas empreitadas, entremeado por observações sobre seu próprio jeito de pensar, de agir e de gerir, até fazer uma breve introdução aos empreendimentos do Grupo EBX, que chegaram a colocá-lo entre as 10 maiores fortunas do mundo.
A PUBLICAÇÃO:
O livro O X DA QUESTÃO, de Eike Batista, foi lançado em 2011, pela Editora Primeira Pessoa, tem 159 páginas, distribuídas em 41 pequenos capítulos. O prefácio é de autoria de seu pai, Eliezer Batista, personalidade de alta reputação no mundo dos negócios, em função, entre outros méritos, de sua participação decisiva na história da evolução da mineração no Brasil. Naquele momento, o autor estava sendo muito festejado em toda a mídia mundial, pelo sucesso na captação de US$26 bilhões para seis empresas, via bolsa de valores, pela seguida valorização das ações em bolsa e por ter passado a ser o homem mais rico do Brasil e uma das dez maiores fortunas do planeta.
A OBRA
O livro é autobiográfico, mas centra-se na vida empresarial do autor, com destaque para sua forma de pensar o mundo dos negócios e para o estilo de gestão de seus empreendimentos. Ao longo de todas as páginas, o texto se coloca como uma explicação para um sucesso imenso, espetacular, mixando administração propriamente dita e filosofia de vida, como se os dois fossem uma só realidade. Também há relatos de experiências de fracasso, temperadas por, digamos, lições morais. E não faltam declarações de confiança e fé no futuro do Brasil, além de críticas diretas a colegas empresários brasileiros, sem citar nominalmente, apenas referindo-se a setores (empreiteiros, por exemplo).
Eike conta detalhadamente como juntou um bilhão de dólares nos primeiros vinte anos como empresário focado em mineração. Depois, relata a montagem do Grupo EBX, composto de empresas de mineração (MMX), energia (MPX e CCX), logística (LLX), petróleo e gás (OGX) e infraestrutura (OSX), sua lógica, seus princípios, seus méritos e suas perspectivas fantásticas.
Especificamente em termos de gestão, o livro traz apenas uma ideia original, desenvolvida por Eike e, segundo ele, aplicada na administração cotidiana de todas as suas empresas. Trata-se do conceito de Visão 360 — ´ela permite enxergar a alma de um negócio`, diz o autor.  A conferir.
A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
Depois da grande crise originada na aguda iliquidez do sistema bancário em 2008, onde a quebra do banco norte-americano Lehmann Brothers foi apenas a ponta do iceberg, não se contaram muitas histórias de sucesso empresarial. As exceções ficaram por conta do mercado de internet, com brilhos de inovação pontuais. A literatura de negócios ficou de prateleiras meio vazias.
Eike Batista conquistou destaque ao captar em bolsa US$26 bilhões para empreendimentos brasileiros e galgar um posto na lista dos mais ricos do mundo. Fazer isso no rigoroso mercado de ações não é para qualquer um. Eike vendeu a investidores o seu próprio passado e ofereceu-lhes em troca apenas expectativas para o futuro. Como ele conseguiu isso?
Evidentemente, o livro não dará conta de toda a história, mas há algumas pistas.
(Neste momento, 05.08.2013, o Grupo EBX sofre uma crise de confiança e de liquidez, causada pela frustração dos investidores e financiadores, abalados pelo desempenho empresarial muito abaixo das expectativas. Com a queda do preço das ações em Bolsa, Eike já deixou de ser um dos dez mais. E é possível que algumas das empresas do grupo venham a ser sacrificadas, na tentativa de salvar outras. De qualquer forma, o livro também ficou algum tempo na lista dos dez mais e não custa comparar o Eike do livro com o Eike do mundo real).
BONS MOMENTOS
1. Uma convicção se formou em mim desde muito cedo: a de que você só cresce com as dificuldades. Ou estresses, como prefiro chamar. A asma foi o primeiro de uma série. Ela se manifestou por volta dos meus onze anos. É uma doença que provoca falta de ar e causa ansiedade terrível. Minha mãe entendeu que a cura estava em me colocar numa piscina. Acho que continua a ser o mais recomendável. Comecei a nadar aos 12 anos e em menos de um ano estava curado.
2. Entendi que devia me virar sozinho na Europa. Um amigo sugeriu a possibilidade de vender seguros. Topei na hora. Eu provavelmente aceitaria vender enciclopédias ou cachorro-quente. O importante era conseguir uma renda que me permitisse concluir os estudos sem recorrer a meus pais. Frequentei um curso rápido e fui jogado aos leões. Foi uma experiência e tanto bater de porta em porta. Algumas se abriam, outras não. Naquelas que se abriam, tive interações curiosas, divertidas, diferentes. Aprendi a conversar com as pessoas, entender o que se passava na cabeça delas.
3. Fui visionário porque converti uma área que dependia basicamente das mãos de um punhado de homens na primeira lavra de ouro mecanizada industrial da Amazônia brasileira. Acreditei no que meus olhos viram. Acreditei também no que meus olhos não viram — havia muito mais ouro naquela terra inacessível aos homens e carente de uma lavra mecanizada.
4. Enquanto estive à frente da empresa, a TVX adquiriu excelentes ativos operacionais na América do Sul e conquistou presença relevante no mercado norte-americano ao participar de quatro grandes minas de ouro… Minha holding havia adquirido também minas de níquel, zinco e prata. A experiência naquele momento era tamanha que os casos de sucesso se multiplicavam. Minha expertise em adquirir negócios mal administrados e fazer jorrar riqueza em cada um explica a margem espantosa de algumas investidas.
5. Visão 360 Graus é observar o entorno jurídico, político, financeiro, ambiental, social, humano, logístico, mercadológico e operacional. Identifico nove áreas ou nove tipos de engenharias, como prefiro chamar. Elas regem a órbita do mundo dos negócios no Grupo EBX. É importante identificar como cada engenharia será capaz de afetar seu negócio. Ao concluir que todas as áreas estão cobertas, siga em frente com confiança. Infelizmente, grande parte dos empresários leva em conta apenas dois ou três vetores quando pensa em seus projetos… Nunca menospreze uma das engenharias de seu negócio. Pense muitas vezes em cada uma delas. Questione-se… Mas nunca se esqueça de que o mundo dos negócios também guarda suas surpresas e está sempre a exigir do empreendedor algo que ninguém aprende ou ensina. São virtudes cuja descoberta se dará apenas quando o jogo tiver começado: capacidade de improvisar e intuição para agir diante de situações que, por melhor que seja o planejamento, sempre escapam ao mais visionário dos homens.
6. Posso lidar com ouro, prata, cobre, níquel, zinco, petróleo, energia, enfim, posso fazer um mundo girar à minha volta, mas ele gira a partir de uma ideia, de um conceito. Meu trabalho é colocá-lo para funcionar, provar um modelo que estava na minha cabeça, fazê-lo migrar do papel para a realidade, em três dimensões, com gente de carne e osso.
7. Eu costumava visitar os garimpos para verificar se produziam conforme o esperado. Era comum adiantar o dinheiro para alguns garimpeiros. Numa de minhas rondas, cruzei com um deles, um homem a quem havia emprestado dinheiro seis meses antes. Fui cobrar a dívida e, no dia em questão, ele estava bêbado. Tive uma reação infeliz ao perceber que não queria me pagar. Perdi o controle e o ofendi com um palavrão. Pouco depois que virei de costas, ele me deu um tiro. Estava ofendido e alcoolizado. Foi uma lição.
8. Imagino que talvez um dia alguém, em algum lugar do Brasil, tenha pensado: por que não competir com a Petrobrás ou com a Vale? No instante seguinte, o mesmo sujeito provavelmente achou que aquilo era um acesso de megalomania e foi procurar um médico… De fato, havia alguém que não enxergava como obstáculo intransponível competir de forma saudável e criativa com Vale e Petrobrás. E ao mesmo tempo!
CITAÇÕES
1. Aprendi a identificar os sinais na expressão facial de uma pessoa. Sei quando alguém acredita em mim, e percebo claramente quando se passa o inverso… Um líder é alguém que adquire o dom de entender a linguagem silenciosa das expressões.
2. Há quem diga que tenho o ego grande… Sou motivado ao limite. Talvez isso acabe por se confundir com vaidade exacerbada. O certo é que todo empreendedor precisa de uma boa dose de autoestima para liderar.
3. Não dou muita bola para organogramas complicados e abomino burocracia.
4. A taxa de acerto para achar uma mina de ouro é de 17 mil para um, Ou seja, você precisa tentar 17 mil vezes para obter sucesso uma vez.
5. Em duas décadas, acumulei meu primeiro bilhão de dólares.
6. Visão 360 Graus é olhar adiante, ver o que ninguém vê à primeira vista porque apenas os vetores mais óbvios foram cobertos. Ela permite enxergar a alma de um negócio.
7. Meu grande barato é gritar: Ação!
8. Acreditei sempre, em todos esses anos, que existe mesmo o imponderável, algo que você não vê e ainda assim está presente na sua vida e nos seus negócios.
9. No mundo dos grandes negócios, os tiros pelas costas são disparados muitas vezes por aqueles que se sentiram agredidos por gestos ou palavras mal colocadas.
10. Delego com D maiúsculo.
11. Se você não tem um sonho, acorda vazio.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.