Pré-leitura do livro “O Caráter Regressivo do Capitalismo Contemporâneo”, de PEDRO HENRIQUE M. QUEIROZ

O AUTOR

Pedro Henrique M. Queiroz é escritor. Licenciado e Mestre em Filosofia pela UECE, Doutorando pela UFRJ. Livros publicados em 2021: Economia e cultura na modernidade capitalista (Editora Fi), Crônico (Editora Fi), O caráter regressivo do capitalismo contemporâneo (EdUECE). PH nasceu em 1988.

A PUBLICAÇÃO

O livro “O CARÁTER REGRESSIVO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO”, de autoria de Pedro Henrique M. Queiroz, foi publicado em 2021 pela EdUECE, com 109 páginas. Prefácio de Ruy de Carvalho.

CIRCUNSTÂNCIAS

Os estudos e a trajetória de interesses e preferências de Pedro Henrique o conduziram por dez anos até este livro. Economia, Política e Filosofia foram convocadas e ordenadas para, juntas e misturadas, dar sentido a um conjunto de perspectivas muito pessoais, mas todas embasadas no rigor científico. Sua tese de mestrado virou livro. Ou o contrário.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Este livro faz de forma autêntica e original, num texto de alta densidade, a conexão das proposições de Karl Marx e Robert Kurz —lembrando que elas são conflitantes. Para fazer essa ponte com segurança, o autor se serve das ideias de Walter Benjamin e Guy Débord. O alvo do trabalho de pesquisa é o capitalismo. A tese central é que quanto mais o capitalismo avança, mais avança a sociedade rumo à barbárie.

A densidade das ideias é apoiada na qualidade do texto, na substância dos argumentos e na adequada seleção dos eventos históricos citados. Um livro necessário aos profissionais do ramo. Um livro indicado para quem aprecia uma reflexão séria.

O LIVRO

O livro está estruturado em quatro capítulos, com quinze títulos neles distribuídos. Há um exame crítico do capitalismo em todo o percurso. Em termos cronológicos o autor cobre um pouco mais de século e meio de história, entre 1850 e 2015. Todos os grandes ciclos político-econômicos relevantes nesse intervalo são abordados com uma angulação que enriquece o leitor. Lá estão o golpe que marcou a história da França, seis décadas depois da Revolução, assim como o período entre as duas guerras, seguidas das três décadas de ouro e as mudanças de rumo radicais dos anos 1970. Há referências bem pontuadas ao Brasil.

INSIGHTS

“Niilismo, narcisismo e melancolia são, portanto, sintomas já presentes nas origens do que conhecemos por modernidade. Serão suprimidos ou manifestos conforme o sopro do vento do progresso nas asas do anjo da história.

“…o bem-estar da metrópole sempre foi sustentado pelo mal-estar nas colônias. No entanto, há também o mal-estar interno à própria metrópole…

“…como é preciso trabalho-dinheiro para ser gente, ou cidadão, então ou o “sujeito” trabalha mais, bem mais, para manter algum valor, ou o “sujeito” trabalha mais, bem mais, para sobreviver informalmente, ou fica entregue à mera vida matável.

“Inteligência Artificial e Robótica, frutos do paradigma científico puro sangue, podem ser vistos como fenômenos não redentores, pois expressam o ponto culminante da alienação, a subjetivação da coisa que se tornou visível.

“A luta por reformas torna-se reformista quando passa de meio a fim, torna-se um fim em si mesma. É preciso ver melhor esse ponto, sobretudo diante do atual desmonte, das atuais contrarreformas, pois nem mesmo essas se consegue barrar.

“Como medir então o termômetro do terrorismo indireto de Estado? Impotência social e produção do medo. Mas não apenas.

IDEIAS CENTRAIS

“O problema que precisa ser discutido é antigo: como todo potencial ou discurso do progresso, de um aprimoramento humano na história tem, na verdade, se convertido em barbárie, em destruição, guerra, adoecimento, como toda ideia moderna de felicidade não passa de uma mentira, pois sustentada em um suposto aprimoramento do domínio técnico, material que, no entanto, não se traduz do ponto de vista social, das relações humanas, senão apenas fantasmagoricamente, como algo que poderia ter sido, mas não é – nem foi.

“Ao nos remeter ao contexto do entreguerras, o momento atual está antes nos exigindo uma compreensão do passado recente da acumulação de capital, o processo de reestruturação produtiva desde os anos de 1970, passado este que nos lança de volta à própria formação do sistema da acumulação de capital, o seu processo de acumulação primitiva…

“A situação atual é inteiramente nova, o processo de acumulação de capital é algo de irreversível, as condições da produtividade e da rentabilidade nunca permanecem as mesmas; mas se trata de dizer que é apenas porque o presente produz e reproduz, engendra e mantém, um arcaísmo, as próprias relações mercantis, que é possível estabelecer essa relação negativa com o que há de arcaico no passado, com as suas formas próprias de dominação.

“O paradoxo constitutivo do 18 Brumário: a ordem burguesa suspende a Constituição para garantir as leis do mercado, os proletários passam a defender a própria Constituição, o próprio Estado de direito, diante do Estado de exceção, que costuma ser o poder militar soberano. Isso vai se repetindo no tempo, ora como tragédia, ora como farsa. Qual a outra tática que não a defesa do Estado de direito? É esse ainda o dilema atual.

“Há todo um urbanismo centrado nas coisas-mercadorias, que sustenta separações funcionais e luminárias brilhosas, a ser modificado; a teia de aranha que ata trabalhador-salário-consumo (composição privilegiada, por sinal) ia ser parcialmente quebrada se em cada bairro houvesse uma pequena horta compartilhada, quem sabe até agroflorestas – a paisagem de asfalto e concreto veria, assim, brotar mais do que uma lânguida flor amarelada. Mas nada como a apropriação comum dos meios de produção e vida, comunicação e transporte…

“Essa relação viciosa entre o moderno e o arcaico, exposta superficialmente até aqui na relação entre presente e passado, é apresentada por Benjamin nos seus exposés acerca do livro das Passagens enquanto dialética do novo e do sempre-igual, uma interpenetração de mudança e manutenção do mesmo que se expressa no conjunto das produções culturais. Tal dialética se constitui a partir de uma contradição fundamental da acumulação de capital, a contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção.

“Se podemos tomar um paralelo histórico como ponto de partida para a compreensão do significado contemporâneo da guerra, esse paralelo está na semelhança entre o contexto do entreguerras, na primeira metade do século XX, e o contexto atual, as duas primeiras décadas do século XXI. O denominador comum de ambos chama-se: refluxo. O primeiro como refluxo do universalismo ocidental expresso nos valores iluministas de igualdade, liberdade e racionalidade, de autonomia e felicidade a partir do progresso material da civilização industrial, no contexto da crise econômica de 1929, da mobilização nazifascista que lhe sucedeu e, enfim, na guerra mundial. O segundo como refluxo do discurso de integração mundial pelo mercado no contexto da globalização expresso nos atentados de 11 de setembro, na ocupação de Iraque e Afeganistão até seu ponto culminante na crise de 2008…

 

(PS: não há versão impressa do livro. Link abaixo para edição virtual)

http://www.uece.br/eduecewp/wp-content/uploads/sites/88/2021/11/O-carater-regressivo-do-capitalismo-contemporaneo.pdf

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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