PRÉ-LEITURA DO LIVRO “JOSEPH FOUCHÉ – RETRATO DE UM HOMEM POLÍTICO”, DE STEFAN ZWEIG

O AUTOR

Stefan Zweig (1881-1942) foi um escritor austríaco (contos, romances, peças e biografias). Estudou Literatura e Filosofia. Morou também na Alemanha, Inglaterra, EUA e Brasil (aqui lançou o livro “Brasil, país do futuro”, em 1941, um ano antes de sua morte trágica, junto com a esposa Lotta).

A PUBLICAÇÃO

O livro “Joseph Fouché – Retrato de um Homem Político”, de autoria de Stefan Zweig, foi reeditado no Brasil em 2015, pela Zahar Editores, com 228 páginas. Posfácio do jornalista Alberto Dines. O livro foi publicado pela primeira vez em 1929.

CIRCUNSTÂNCIAS

O período mais rico de toda a história da França é certamente aquele mais instável, aquele em que em duas décadas o país derruba a monarquia com uma revolução, instala uma república e a atropela com um império. É a virada do século XVIII para o século XIX, quando brilham as estrelas de Napoleão Bonaparte, Robespierre, Danton, Talleyrand e Joseph Fouché.

Este último merece ter seu perfil psicológico e politico colocado no centro deste turbilhão histórico. Stefan Zweig dá ao personagem uma justa dimensão.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Napoleão, Robespierre e Fouché ora dividem, ora disputam o poder, às vezes, a depender das circunstâncias, podendo o derrotado terminar na guilhotina instalada na praça ao lado. Robespierre, a incarnação do poder revolucionário, apontado como “o incorruptível”; Napoleão, o homem mais poderoso e temido da Europa; e  Fouché, amante absoluto do poder politico, sem caráter, despido de qualquer limite ou pudor. Stefan Zweig conta como os três lutaram entre si, tendo a ardente Revolução Francesa e o destino da Europa ao fundo.

O LiVRO

Joseph Fouché é um personagem impressionante. A cada bloco de páginas sua trajetória sofre um solavanco. Ele está sempre a um passo do poder, ora prestes a conquistá-lo, ora prestes a ser afastado, a guilhotina, neste último caso, como destino possível, provável. Fouché sempre escolhe o lado vencedor. Quando erra, sai de cena e recarrega sua força política. E volta para o jogo. Ele não teme enfrentar gigantes como Robespierre e Napoleão. E se acredita capaz de derrotar ambos.

Fouché foi um dos homens mais poderosos da história da França. Ganhou dinheiro e tornou-se o latifundiário número um de seu país e dono da fortuna pessoal número dois. Também viveu a miséria, foi salvo por amigos, a quem logo em seguida traiu. Criou um sistema nacional de informações que virou uma polícia política.

Leia as primeiras palavras dó  Posfácio de Alberto Dines: “Protótipo do conspirador, paradigma do político inescrupuloso, exemplo de genocida metódico, ele só poderia sobreviver e destacar-se naquele ambiente fanatizado marcado pelo infame pregão de que os fins justificam os meios, pelo confronto de cobiças e pelo absoluto desrespeito à vida que entrou para a história com a etiqueta truncada de Revolução Francesa. Caso clássico de uma empolgante utopia abortada pela distopia incubada em seu ventre. Lembrança dolorosa de que os mais belos estandartes podem ser irremediavelmente maculados quando empunhados por mãos sujas de sangue”.

CURTAS

“… Joseph Fouché aprende muito daquilo que servirá infinitamente ao futuro diplomata, sobretudo a técnica de manter-se calado, a arte magistral da dissimulação, a maestria na observação das almas alheias e da psicologia.

“…Traidor nato,  intrigante miserável, réptil escorregadio, desertor profissional, alma mesquinha de policial, amoralista deplorável, não lhe poupam nenhum insulto…

“… pois do que cada um possui além do necessário, não se poderia fazer outro uso que não o abuso.

“… Vocês estavam oprimidos, é preciso esmagar os seus opressores.

“… Fouché desenvolve sua teoria predileta, a de que o rico, o “mauvais riche”, nunca poderá ser um republicano verdadeiro e honesto.

“… o primeiro manifesto comunista dos tempos modernos, na verdade não é o célebre texto de Karl Marx… foi incontestavelmente redigida por Fouché sozinho…

“… Para ele, só há uma coisa importante: estar sempre com o vencedor, nunca com o vencido.

BONS MOMENTOS

“… Duro, frio, intrigante e pouco comunicativo, dentro do lar esse homem estranho é o melhor marido, o mais amoroso pai de família. Ama apaixonadamente a sua mulher assustadoramente feia e sobretudo a menininha nascida nos dias do seu proconsulado e que ele batizou com as suas próprias mãos.

“… Joseph Fouché sabe que só há  um meio de salvar a própria cabeça: fazer a do outro, a de Robesierre rolar antes da sua. Está declarada uma guerra de morte. Começou o duelo entre Robespierre e Fouché. Esse duelo constitui um dos episódios mais fascinantes, mais psicologicamente excitantes da história da revolução.

“… O desespero supremo sempre produz uma força suprema, e assim, dois passos antes do abismo, Fouché se atira contra o perseguidor, tal como um cervo acossado,  que salta da última moita para atacar o caçador com toda a coragem do desespero.

“… os homens antes tão corajosos e passionais estão agora sentados em seus bancos mudos, medrosos, perplexos. O veneno terrível do medo, que gasta os nervos e esmaga a alma, paralisa-lhes a vontade.

“… em 1804 o Senador  Fouché volta a ser nomeado ministro por Sua Majestade o Imperador Napoleão. Pela quinta vez, Joseph Fouché presta juramento de fidelidade. O primeiro foi ainda ao governo monarquista; o segundo, à República; o terceiro, ao Diretório; o quarto, ao Consulado. Mas Fouché tem apenas 45 anos…

“… Com o seu rosto descolorado, feito uma máscara de gesso, sem um piscar de olhos, sem trair a emoção com um único nervo, ele aguenta a chuva de palavras caindo sobre ele, apenas, talvez, quando deixa o aposento, um sorriso irônico ou mau, encrespa os lábios. Nem sequer treme quando o Imperador lhe grita: “Traidor, eu deveria mandar fuzilá-lo“, mas responde profissionalmente, sem mudar a entonação de voz: “Não é essa minha opinião, Sire“.

“… esse poder de Fouché sobre Napoleão, que intrigava todos os contemporâneos, nada tem de mágico ou de hipnótico. É um poder calculado e adquirido pelo trabalho, pela habilidade e pela observação sistemática. Fouché sabe muito, sabe talvez demais. Ele conhece todos os segredos imperiais, não apenas pelas confidências do Imperador, mas também contra a vontade deste, e, por ser ilimitadamente bem informado, mantém em xeque o Imperador e também todo o país. Através da própria esposa de Napoleão, Josephine, ele conhece os mais íntimos detalhes do leito conjugal…

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