PRÉ-LEITURA DO LIVRO “JOÃO BRÍGIDO DOS SANTOS, PENA FERINA

O AUTOR

Luís Sérgio Santos é jornalista, professor da UFC e historiador. Criou a OMNI Editora e lançou a revista INSIDE, depois de ocupar postos de comando nos maiores jornais regionais. Publicou vários livros com biografias de personalidades cearenses.

A PUBLICAÇÃO

O livro “João Brígido dos Santos, uma pena ferina”, de autoria de Luís Sérgio Santos, foi lançado na Amazon Kindle, em 2024, com 92 páginas.

CIRCUNSTÂNCIAS

João Brígido (1829-1921) nasceu no Rio de Janeiro mas fez sua vida no Ceará. Foi jornalista, historiador e professor. Sua atuação como jornalista foi especialmente marcante, fundou jornais e atuou com paixão, enfrentando gente rica e poderosa com coragem e com um texto que não reconhecia limites. Como historiador foi rigoroso e criterioso, dando contribuição relevante a partir de seus estudos sobre o Ceará e sobre o Brasil.

João Brígido tem sido muito citado, mas é pouco conhecida sua real trajetória. Este ensaio biográfico avança para jogar luz sobre esta curiosa e relevante figura.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

O jornal e o jornalismo estão sempre merecendo estudos e análises, sobretudo no passado mais remoto, quando a imprensa escrita tinha absoluta hegemonia (em muitos e longos momentos era o único meio de comunicação de massa, nos anos 1930 o rádio ganha projeção, a partir dos anos 1950, a televisão). E isso dava a jornalistas talentosos um papel de destaque na vida política, na economia e na sociedade. Alguns eram celebridades do seu tempo. Como foi o caso de João Brígido.

O LIVRO

O ensaio biográfico é apresentado em seis partes, todas elas breves, sendo a primeira uma introdução que oferece uma panorâmica visão do intelectual. As outras cinco partes tratam de sua atuação no Cariri e depois em Fortaleza como professor, jornalista e historiador. E conta sem muitos detalhes alguns eventos “de combate” direto e expõe controvérsias, ironias e até “causos”.

A seleção de eventos e textos feita pelo autor do livro garante uma leitura prazerosa, sobretudo para quem se interessa por jornalismo, história e politica.

CURTAS

“Foi a política que gerou o jornalismo cearense”, elabora Democrito Rocha na perspectiva do que Antônio Sales já atestara: “as gazetas do Ceará eram meros instrumentos do ferrenho partidarismo reinante”.

“[…] a população da vila da Fortaleza, dizia o governador Barba Alardo, em uma memória dirigida ao Rei em 18 de agosto de 1814, não excedia de 3.000 habitantes.

“João Brígido foi inspirador de grandes polemistas cearenses dentre os quais Deolindo Barreto Lima (1884-1924) e Jáder de carvalho (1901-1985).

“… esse camarada! esse camarada!… Precisamos de um chocalho para sabermos onde vai ele pastar.

“Foi demitido de tenente do corpo policial o sr. Vale, que já não vale, porém valeu, e valeria, se valesse ainda quem o avalia.

“Eu acabo indo embora do Ceará de uma vez… e, se morrer por aí afora, e a minha alma voltar para cá é porque ela não tem vergonha!

BONS MOMENTOS

“O Unitário noticia assim um banquete oferecido a um deputado governista: “À sobremesa, em nome dos presentes, saudou-o o sr. Beltrano. em seguida, Fulano ergueu-se nas patas traseiras, murchou as orelhas e pronunciou um discurso, curto mas ruim”. O mesmo Unitário noticia assim um falecimento: “Faleceu ontem, o venerado desembargador C…, filho legítimo do honrado vigário de São Mateus.”

“O estilo do historiador João Brígido, rigoroso na referência documental, em muito difere do estilo do Brígido panfletário das páginas dos jornais e dos embates nas tribunas da vida parlamentar. No entanto, o criticismo permanece em ambos sendo que naquele a ironia e a acidez retórica estão ausentes, como pede o rigor do pesquisador movido pela importância da memória como variável fundamental com a recuperação da história. Além de se basear em documentos, Brígido revela-se um minucioso descritor de paisagens, arquiteturas, geografias, contextos históricos, pessoas.

“Na introdução à biografia de Mororó, Brígido desenha um Ceará lúgubre, segregado, relegado, largado: “a história do Ceará é triste, quase de angústias e de dores. Aos esforços de todo momento sucedem desastres desconhecidos; às suas glórias sobrevém lágrimas, que alguém nunca verteu, humilhações de todo gênero.
Nas evoluções da sociedade brasileira, o Ceará tem sido a vítima expiatória dos preconceitos, que no seu vôo levam sempre da terra pedaços palpitantes da verdade e da Justiça; para cada esperança, aqui, houve sempre o malogro, para cada luta a ignomínia da dispersão ou da morte.

“Não compreendo como haja quem estigmatize a versatilidade e incoe- rência de João Brígido, afirma Leonardo Mota, no seu antológico Cabeças- Chatas (1993), onde agrupa perfis de cearenses notáveis, neste caso, o de um cearense ad hoc…”ele, com efeito, surrou, no Unitário, muito figurão a quem havia elogiado, tal qual acariciou com louvores muito medalhão a quem havia arrastado pela rua da amargura”.

“João Brígido foi um dos mais ardorosos e populares jornalistas do Ceará do passado. Polemista de grandes recursos, combatente que não temia quaisquer reações, ele iniciou em Fortaleza uma nova modalidade de jor- nalismo, e foi, durante grande tempo, o terror dos políticos e das figuras importantes do estado.

“João Brígido foi o mais rude, muitas vezes o mais inclemente e não raro o mais espirituoso dos nossos panfletários. Brigão da crítica, está cer- to de que nada se consegue no mundo sem pancadaria verbal. Nauseado pela cozinha política, vomitava-lhe os pratos, antes de ter comido. Velho pessimista, saboreando muitas vezes as delícias da impopularidade, era dos que se comprazem em criar dificuldades pelo simples gosto de vencê-las. Afigura-se-lhe a vida uma longa corrida com obstáculos.”

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.