Pré-leitura do livro ´Cidade Caminhável´, de Jeff Speck – por Osvaldo Euclides

O AUTOR

Jeff Speck tem formação em Artes e dois mestrados em Arquitetura (um deles, em Harvard). É urbanista e planejador urbano. Oferece consultoria a grandes imobiliárias e a prefeituras, através de sua empresa, a Speck & Associates. É co-autor em vários livros sobre o tema.

A PUBLICAÇÃO

O livro Cidade Caminhável, de autoria de Jeff Speck, foi lançado no Brasil em 2017 (cinco anos depois  de sua estreia nos EUA), pela editora Perspectiva, com 270 páginas.

CIRCUNSTÀNCIAS

O público e o privado, a casa e a rua, as calçadas e o transporte público, o especialista e o generalista, o arquiteto e o ambientalista, o crescimento econômico e a qualidade de vida, todas essas dualidades aparecem no longo processo em que Jeff Speck desenvolveu suas ideias sobre a caminhabilidade, ao dar consultoria a empreendedores imobiliários privados e a gestores públicos de urbanismo, principalmente em cidades norte-americanas.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
Parece que o urbanismo está mudando e verdades antigas e consolidadas começam a esfarelar-se. Jeff Speck não fala de tecnologia, nem passa sequer perto da defesa de teses politico-ideológicas, nem de lobbies de privatização ou de estatização. Nem mesmo a questão ambiental tem cores fortes no livro. Merecem destaque, entretanto, o carro, o elevador, as fachadas dos edifícios, o crescimento econômico, a arrecadação de impostos, a qualidade de vida, a sustentabilidade. Há que se levar em conta o que o livro diz, o autor domina a teoria e conhece a prática da cidade e do seu morador.

O LIVRO

As cidades que oferecem melhor qualidade de vida, alcançam maior prosperidade. A qualidade de vida tem muito a ver com a caminhabilidade. O livro começa expondo a ideia que dá nome ao livro, com argumentos objetivos. Depois, o autor apresenta uma sugestão prática de como tornar a cidade caminhável, oferecendo, didaticamente, dez passos da caminhabilidade. 1.Por o automóvel em seu lugar. 2. Mesclar os usos. 3. Adequar o estacionamento. 4. Deixar o sistema de transporte fluir. 5. Proteger o pdestre. 6. Acolher as bicicletas. 7. Criar bons espaços. 8. Plantar árvores. 9. Criar faces de ruas agradáveis e singulares. 10. Eleger suas prioridades.

 

INSIGHTS  (CURTAS)

“Esses três aspectos – prosperidade, saúde e sustentabilidade – são, não por mera coincidência, os três principais argumentos para tornar nossas cidades mais caminháveis.”

“…os mais jovens não veem mais o carro como despesa necessária ou fonte de liberdade pessoal. Na verdade, a visão que vem crescendo é justamente contrária…”

“Liberdade significa morar em comunidades acessíveis, caminháveis e com convenientes integrações de transporte público e bons serviços como bibliotecas, entidades culturais e saúde.”

“Se pudermos construir uma cidade boa para as crianças, podemos construir uma cidade boa para todos.”

“…um planejamento realista de caminhabilidade começa no centro da cidade, onde a maioria dos ingredientes-chave já existe…”

“…só recentemente as regulações do estado de Virgínia pararam de referir-se às árvores como FHOs – Fixed and Hazardous Objects (Objetos Fixos e Perigosos).”

 

IDEIAS CENTRAIS (BONS MOMENTOS)

 

“A sabedoria convencional costumava ser: primeiro se criava uma economia forte e o aumento da população e a melhor qualidade de vida se seguiriam. Parece que, agora, o inverso é mais provável: criar uma qualidade de vida melhor é o primeiro passo para atrair novos moradores e postos de trabalho. Este é o motivo pelo qual Chris Leinberger acredita que ´todas as extravagantes estratégias de crescimento econômico, como incrementar um aglomerado biomédico, um aglomerado aeroespecial, ou qualquer que seja o desenvolvimento ao sabor do momento, não se compara com a força de uma grande área urbana caminhável´.”

“Por terem um impacto tão forte na caminhabilidade, árvores de rua têm sido associadas a melhoras significativas tanto no valor dos imóveis como na viabilidade do varejo. E como esse ganho se traduz, diretamente, em maiores rendas advindas de impostos, as comunidades seriam financeiramente irresponsáveis se não investissem, para valer, em árvores.”

“…têm razão quando dizem que as cidades mais agradáveis e habitáveis são aquelas como Amsterdam e Paris, construídas, sobretudo, antes do aparecimento dos elavadores. É claro, esse resultado depende mais do fato de que também foram construídas antes dos carros, mas a escala humana das construções também contribui. A discussão mais importante, porém, se refere a se os prédios mais altos degradam a caminhabilidade por sua presença tanto quanto a melhoram por sua capacidade…”

“Para o Homo sapiens, a necessidade de perspectiva e refúgio pode ter uma fonte ainda mais específica. O ecólogo E.P. Odum afirmava que não era nem a savana nem a floresta o habitat ideal primitivo para os antigos humanos, mas sim a fronteira entre os dois, ou seja, a “transição da floresta”, onde estavam presentes tanto vistas distantes como sensação de fechamento.”

“Vias expressas elevadas são uma praga nas cidades e diminuem drasticamente os valores das propriedades circundantes, não só no entorno imediato, mas às vezes por vários quarteirões em ambos os lados. Bulevares arborizados, é claro, fazem o oposto…se fizerem direito as contas, algumas cidades podem encontrar amplas justificativas para derrubar uma ou duas vias expressas, antes que comecem a ruir.”

“Washington DC é uma das poucas cidades americanas que pode ser corretamente descrita como um lugar onde os carros são opcionais. Nova York, Boston, Chicago e San Francisco e não muitas outras propiciam uma qualidade de vida equivalente, se não melhor, para os que não têm carro, graças a uma combinação de origem pré-carro e planejamento posterior esclarecido.”

 

 

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.