A AUTORA
Ângela Carneiro, nascimento 1954, Rio de Janeiro. Escritora, ilustradora e tradutora. Formada em Pedagogia, mestre em Educação. Recebeu o prêmio Jabuti- categoria Melhor Livro Infantil/Juvenil por “Caixa Postal”.
A PUBLICAÇÃO
O livro Café com Biscoito, de autoria de Ângela Carneiro, foi publicado em 2021 pela Editora Cintra. Foto e Projeto Gráfico da Capa, da autora.
CIRCUNSTÂNCIAS
Marlene, a protagonista, por insistência do filho, muda para o bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, uma cobertura, um modesto edifício próximo ao mar. Esse mudança residencial se torna o ponto de partida para experiências novas, personagens inusitados e histórias cativantes. A trama é costurada com humor e afeto, explorando a adaptação de Marlene à vida urbana agitada e a surpresas que aguardam quem recomeça.
É nessa simplicidade, nesse “luxo modesto”, que Marlene encontra mais que um lar, uma série de pessoas e momentos que mexem com sua vida, deixando cada página do livro com o sabor de vida, cheio de memórias e novas perspectivas.
IMPORTÂNCIA DO LIVRO
A importância de Café com Biscoitos está na sua capacidade de nos transportar, com sensibilidade, para o coração do cotidiano carioca. Ângela Carneiro cria uma narrativa que celebra a vida simples, a comida e as relações servindo como fios que unem as pessoas e enriquecem o dia. Cada capítulo, inspirado por uma receita, envolve o leitor numa experiência que desperta memórias, sabores e emoções, aproximando a leitura de ato sensorial.
O LIVRO
Marlene, a protagonista, traz a dignidade e a força da mulher madura, mostrando que nunca é tarde para recomeçar ou para criar laços significativos. Em torno dela e de seu novo “cantinho”, constrói uma comunidade que reflete a diversidade (e as adversidades) de um Rio de Janeiro menos glamouroso e mais (digamos) intenso. O preconceito racial, a homofobia e a solidão são questionados, ainda que com um tom acolhedor e empático.
Em Café com Biscoitos, de Angela Carneiro, o cotidiano ganha sabor e textura únicos. A obra está estruturada em 25 capítulos, cada um inspirado por uma receita, como “Tênder e Lentilhas”, “Panquecas” e “Mousse de Chocolate”. O texto convida a uma experiência sensorial que vai além da leitura. É um retrato genuíno da vida carioca, o cheiro da comida e o aroma do mar se misturam, trazendo o calor das ruas e o ritmo da vida de Copacabana.
Marlene, com sua generosidade, torna-se ponto de apoio para figuras como um gay que enfrenta humilhações e violência, ou uma criança negra que sofre o peso do preconceito. Ângela Carneiro, traz à tona discussões sobre perdas, a solidão da velhice e o amor que persiste na maturidade. É um livro sobre encontros e acolhimento, onde os personagens, cada um à sua maneira, ajudam-se mutuamente, tecendo uma rede de afeto que sustenta e dá sentido a suas vidas.
CURTAS
“…otimismo e uma esperança em geral só se encontram nos jovens e nos loucos.
“E agora, sou eu só. Vida a UMA.
“Envelhecer juntos não é envelhecer.
“O tempo era meu. Eu podia dispor dele como bem o quisesse.
“…Era bicha. Homem gosta de mulher, nem sabe se ela tem pé. Vai acabar deitada mesmo.
“Você não está gorda, está amaciada!
“Ninguém olhou para mim. É engraçada essa idade de quando a gente se torna invisível.
“É difícil voltar a existir”
BONS MOMENTOS
“O cheiro de maresia alcançou meu nariz. Imponente, forte, como quem diz: Não adianta me empurrar, o vento me traz! Lembrei-me do poema de Neruda que repete como as ondas: eu me chamo mar, me chamo mar, me chamo mar…
“Tenho medo que puxem o sangue quente da mãe, a senhora me desculpe falar desse jeito, mas não é por mal não, é que a mãe delas era mulher à toa, mulher da vida, num sabe, e eu fiquei doido por ela, não dormia, não comia, só pensava nela. E queria que ela mudasse de vida, mas ela fazia por gosto, não por precisão.”
“É impressionante que, mesmo com a internet, o prazer do papel não acaba. A gente gosta de sentir o objeto, a cor da impressão, até mesmo as falhas. As palavras impressas, e guardar numa estante, e esquecer por lá e saber que um dia revê e poder ver sob a luz do Sol…
“Céus! Eu estava ficando excitada! Senti minhas coxas apertando, senti desejos, vontade, necessidades! Como? Qual foi a última vez que… Eu tinha que parar de pensar em últimas vezes! E parar de pensar no que poderia ser, pois, mesmo que fosse possível, eu não teria coragem.”
“Eu tinha vontade de beijar, mas achava meio ridículo. Não tinha mais idade para línguas e salivas.”
“Mas uma coisa a vida tinha me ensinado: Quando você está realmente bem, feliz com sua vida, com sua rotina e, talvez, já tenha viajado e conhecido muitas coisas, as novidades, apesar de serem bem-vindas, não são mais essenciais.”