Pré-leitura do livro ANAUÊ – os camisas verdes no poder, de JOSÊNIO PARENTE – por Osvaldo Euclides

O AUTOR

Josênio Parente é cearense de Fortaleza, nascido em 1948. Graduou-se e fez mestrado em Ciências Sociais e doutorado em Ciência Política. Professor ativo da UECE e aposentado da UFC, coordenador do grupo de pesquisa Democracia e Globalização do CNPQ. Publicou os livros A Fé e a Razão na Política, A Fé e a Razão na Sociedade e A Era Jereissati, além de “Anauê”.

A PUBLICAÇÃO

O livro ´ANAUÊ – os camisas verdes no poder´, de autoria de Josênio Parente, foi lançado em 1999, pelas Edições UFC, com 204 páginas, prefácio de Maria Teresa Frota Haguette e orelha de João  Alfredo de Souza Montenegro.

CIRCUNSTÂNCIAS

Josênio Parente faz uma pesquisa minuciosa sobre a realidade do Ceará nos anos 1930. Levanta dados sobre a economia local, relaciona os setores mais ativos, lista as empresas e o números de seus operários. Identifica os líderes religiosos que atuavam politicamente quase como um partido (Dom Manuel, Dom José Tupinambá, Padre Hélder Câmara, por exemplo) e a ação da Liga Eleitoral Católica (LEC). Explica como agiram os movimentos operários em torno da Legião Cearense do Trabalho (LCT) e seus líderes (como Joeovah Motta e Severino Sombra, os principais). É nesse contexto que nasce e atua a Ação Integralista Brasileira (AIB) que busca a conquista do poder. Os membros do movimento eram chamados “camisas verdes” (na Itália, os fascistas usavam ´camisas pretas´) e saudavam-se erguendo a mão direita aberta e usando a palavra “anauê”.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

A década de 1930 é marcante sob vários aspectos. Na economia desdobra-se a crise cujo evento inicial é o “crash” da Bolsa de Valores de Nova Iorque e vai arrastar-se por pelo menos oito anos. Na política, o fascismo já domina a Itália (e contamina Portugal e Espanha), o nazismo se consolida na Alemanha. A Igreja Católica define-se pelo Capitalismo (com a Quadragésimo Anno, em 1931, 40 anos após a Rerum Novarum ) e se coloca contra o comunismo e o socialismo. No Brasil, acontece a Revolução de 1930, os militares (Getúlio Vargas à frente) ocupam o poder, na esteira do movimento “tenentista”.  No Ceará, a Igreja Católica, o movimento operário e segmentos da classe média criam a Ação Integralista Brasileira. O livro relata esta experiência. O LIVRO

O livro ANAUÊ – os camisas verdes no poder, de Josênio Parente, tem origem no trabalho acadêmico que lhe conferiu o título de Mestre em Sociologia, em 1984. Todo o seu conteúdo foi levantado com base em vasta pesquisa e escrito com rigor acadêmico, editado de forma a tornar a leitura acessível. A estrutura da obra é a mesma da dissertação, com a Introdução e cinco capítulos (a historiografia sobre o integralismo, o movimento operário cearense na Primeira República, a Igreja Católica no Ceara antes de 1930, a Legião Cearense do Trabalho, a Igreja e o Integralismo no Ceará) seguidos das considerações finais e anexos.

Josênio não se restringe a relatar os fatos e os dados do contexto histórico. Analisa, articula e qualifica eventos e protagonistas. O Integralismo teve uma experiência única no Ceará, e virou referência nacional. A AIB nasce da articulação do movimento operário (leia-se Legião Cearense do Trabalho) com segmentos da classe média comandados pela Igreja Católica (cristalizados na Liga Eleitoral Católica, principalmente), o que já é inusitado. Da mesma maneira que também é inusitado que tenha sido percebido como um movimento ora de direita, ora de esquerda, simultaneamente conservador e autoritário. Ambiguidades frequentam toda a narrativa.

CURTAS  (INSIGHTS)

“Nesse período (1933), a população do Ceará era de 1.757.550 habitantes, segundo a Comissão de Revisão Administrativa do Estado, enquanto Fortaleza tinha 136.000 almas.”

“No Ceará, para que se entenda o sucesso do Integralismo, é imprescindível conceber a Igreja Católica como organizadora política de setores significativos da sociedade civil.”

“A liderança mais efetiva estava ligada ao Movimento Operário com Jeovah Motta e Padre Hélder Câmara, que posteriormente abandonaram o ideário integralista”.

“A Ação Integralista Brasileira (AIB) no Ceará nasce de dento da Legião Cearense do Trabalho (LCT), precursora, também em nível nacional, da AIB. “

BONS MOMENTOS (IDEIAS CENTRAIS)

“O apoio que a Igreja Católica empresta à organização do movimento operário nos dois primeiros anos da década de 1930 é transferido, em 1934, para a Ação Integralista Brasileira (AIB), um movimento de classe média mais abrangente. “

“A consequência política, isto é, a consciência de ser parte de uma força hegemônica, não surge de forma mecânica, mediante a passagem de uma visão de mundo de forma “ingênua” para uma outra coerente e unitária.”

“Logo em maio de 1931, o papa Pio XI lança a encíclica ´Quadragésimo Anno´, que não só comemorava os 40 anos da ´Rerum Novarum´, de Leão XII, como reafirma a opção da Igreja Católica pelo Capitalismo, considerando o Socialismo e o Comunismo incompatíveis com seus princípios”.

“Como os movimentos fascistas – sobretudo o italiano, já no poder, e o alemão, em vias de ascender – já causavam impacto no Brasil, a Legião Cearense do Trabalho passou também a ser observada nacionalmente como uma experiência.”

“A Liga Eleitoral Católica no Ceará (ao contrário de outros estados) tomou conotação formal de Partido Político em decorrência, entre outros fatores, da própria natureza do movimento tenentista e ao trabalho dinâmico, e bem antigo, de Dom Manuel.”

“A figura do Chefe da Legião Cearense do Trabalho (LCT), Severino Sombra, passou a ser importante na decisão de criação de um movimento de direita em nível nacional. ER esse movimento começará a ser articulado no sul do país, com Plinio Salgado, o mineiro Olbiano de Mello e o próprio Severino Sombra.”

“Percebemos que o Integralismo no Ceará era muito ambíguo. Ora era visto como um catolicismo de Direita, ora como um “comunismo” disfarçado, uma “melancia” (verde por fora, vermelho por dentro) como diziam, na medida em que incentivava greves”.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

Mais do autor

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.