Pré-leitura do livro A Conquista da Felicidade, de BETRAND RUSSEL, por Osvaldo Euclides

O AUTOR

Bertrand Russel (1872-1970) nasceu no País de Gales e foi um filósofo influente e escritor premiado com o Nobel de Literatura em 1950. Publicou obras de lógica, matemática. História, sociologia e educação.

A PUBLICAÇÃO

O livro A Conquista da Felicidade, de Bertrand Russel, foi originalmente publicado no ano de 1930. Em 2017, a editora Nova Fronteira relançou a obra, com capa dura, 155 páginas, tradução de Luiz Guerra.

CIRCUNSTÂNCIAS

No início da década de 1930, uma onda de mal-estar dominava as sociedades que se consideravam modernas. A infelicidade se espalhava e a ciência ainda não tinha respostas diretas para as questões que se colocavam ou cura para a doença. O mundo tinha saído de uma grande, longa e devastadora guerra e já vivia os desdobramentos econômicos e sociais da Grande Depressão. A filosofia se empenhava em jogar luz sobre a questão, a religião a explorava e o álcool dava algum alívio com uma euforia passageira.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Bertrand Russel produziu um livro fácil de ler e entender. Usou uma linguagem acessível, estruturou um roteiro bastante simples e foi cirúrgico nas suas propostas.  Entra nas questões no espaço entre a ciência e o bom senso. Russel  faz uma abordagem completamente original e mesmo a obra estando prestes a completar noventa anos, sua leitura continua útil, necessária e agradável. A fina ironia e o estilo bem humorado dão ainda mais saber ao percurso literário.

O LIVRO

Já na abertura, o autor coloca a questão da felicidade dos animais, tão bem resolvida. E começa a tratar do ser humano de um jeito original. Ele declara que sua intenção é sugerir uma cura para a “infelicidade cotidiana normal” que se abate sobre quase todas as pessoas, mesmo nos países mais prósperos e avançadas no processo de civilização.

Russel faz duas discussões concretas. Na primeira parte do livro, ele lista e explica as causas da infelicidade. Na segunda parte, ele apresenta as causas da felicidade. E nessa viagem pelo espírito humano, ele apresenta sua visão de temas como a competição, o tédio, a fadiga, a inveja, o sentimento de pecado, a mania de perseguição e o medo da opinião pública. Em seguida, faz a mesma abordagem para responder se a felicidade é possível para o entusiasmo, a afeição, a família, o trabalho, o esforço, a resignação e os interesses impessoais.

INSIGHTS

“Aprenda a arte de ler fisionomias, torne-se receptivo aos estados de ânimo daqueles que encontra ao longo de um dia comum.”

“Aprendi a ser indiferente a mim e às minhas deficiências; aprendi a dirigir atenção, cada vez mais, aos objetos externos , às condições do mundo, aos ramos do conhecimento, às pessoas de que gostava”.

“Há vários tipos de introspecção. Três deles são mais comuns: a do pecador, a do narcisista e a do megalômano.”

“Para essas vítimas da ´virtude´ materna, o primeiro passo rumo à felicidade consiste em livrar-se da tirania das crenças e dos amores da infância.”

“Não há como discutir com os estados de ânimo. Podem mudar de uma hora para outra (por um evento feliz ou uma mudança no nosso corpo), mas não há como serem modificados à força de argumentos”.

“Não acredito por um momento sequer que esse pessimismo (de uma época) tivesse uma causa metafísica. Suas causas eram a guerra, a pobreza e a violência.”

“A preocupação, a impaciência e a irritação são emoções que para nada servem.”

“Uma das fontes de infelicidade, fadiga e tensão nervosa é a incapacidade de nos interessarmos por aquilo que não tem importância prática em nossas vidas.”

“A capacidade de sabermos empregar de forma inteligente o nosso tempo livre é o último produto da civilização e, por enquanto, há poucas pessoas que alcançaram esse patamar.”

IDEIAS CENTRAIS

“O homem feliz é aquele que vive objetivamente, aquele que é livre em seus afetos e conta com amplos interesses, aquele que assegura para si a felicidade por meio desses interesses e afetos, os quais, por sua vez, o convertem em objeto do interesse e do afeto de muitos outros.”

“Acredito que toda pessoa civilizada, homem ou mulher, tem uma imagem de si e sente-se incomodada quando acontece algo que parece empaná-la. O melhor remédio é não ter uma só imagem, mas uma galeria delas, e selecionar a mais adequada para o incidente em questão. Se alguns dos retratos são um pouco ridículos, e daí? Não é nada prudente nos vermos durante todo o tempo como heróis de tragédia clássica. Mas também não recomendo que alguém se veja sempre como um palhaço de comédia, pois os que fazem isso ficam cada vez  mais irritantes; precisamos de um pouco de tato para escolher  um retrato adequado à situação.”

“Uma pessoa que tenha percebido o que seja a grandeza de alma, ainda que temporária e brevemente, já não poderá ser feliz, caso se deixe transformar em um ser mesquinho, egoísta, atormentado por males triviais, com medo do que lhe haja reservado o destino. A pessoa capaz de grandeza de alma abrirá de par em par as janelas de sua mente, deixando que penetrem livremente os ventos de todas as partes do universo. Ela verá a si própria, verá a vida e verá o mundo com toda a verdade que nossas limitações humanas permitam.”

“A mãe ou a babá medrosas, que estão sempre avisando as crianças dos desastres que podem lhes ocorrer, que acham que todos os cães mordem e que todas as vacas são touros, podem inculcar-lhes apreensões iguais às suas, fazendo-as sentir que nunca estarão a salvo se saírem da barra de suas saias. Uma mãe extremamente possessiva pode achar bastante agradável essa sensação por parte do filho: interessa-lhe mais que o menino dependa dela do que da própria capacidade para enfrentar o mundo.”

“Como são assombrosamente variadas as atitudes das diferentes pessoas para com o próximo. Durante uma longa viagem de trem, um homem pode não se concentrar em nenhum de seus companheiros de viagem, ao passo que um outro terá analisado todos eles, examinando seu caráter e deduzindo com sagacidade a situação de cada um deles na vida, podendo, inclusive, chegar a descobrir muitos de seus segredos.”

 

 

 

 

 

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.