Ama apaixonadamente
O fazeres sem sentido;
Aborrece a opinião pública;
Que te cause náusea o próprio público;
Foge do elogio, agradece a crítica feroz,
E te rejubila com a indiferença.
Queixa-te do amor por doloroso em ti,
Mas sem ressentimento te separa
E dedica teu ressentimento coitado
Ao retiro magoado do mundo.
E ainda assim que tudo te comova,
Que tudo te fira e que tudo te grite;
Serás o eco do grito do mundo,
Antena das dores todas,
Mas antes chama, e depois cinza,
Mas sempre cinza mesmo antes da palavra.
De ti nada saberão os sábios célebres;
Teus últimos versos morrerão na boca úmida do último bêbado,
Aquele que ainda precisou beber quando eras a última fonte;
Teus primeiros versos há muito se perderam
Da lembrança e do papel. Pede humildemente
Perdão a cada árvore pela tua ingrata falta de memória.
Morre, sobretudo, a lição mais importante:
Morre, mesmo antes do dia derradeiro,
E a cada dia anterior ao dia derradeiro,
Morre, e sempre te lembras de que és isso,
O fato salvador da carne temporária,
Que dirás a cada passo a todos os ouvidos:
Morre, dirás calmamente a cada forma viva,
Como quem recolhesse pétalas de flores
Ou fizesse lentamente que fechassem pálpebras.