Algumas impressões do crepúsculo, e na hora absurda vem a chuva oblíqua nos paços da cruz. A súbita mão de algum fantasma oculto. Nesses episódios que me cercam sinto-me múmia.
Onde pus minha esperança?
Nas rosas que florescem!
Feliz dia para quem?
Esse Natal chegou
e o sino de minha aldeia agora toca: Suave…breve…tão pobre e velha música.
É Natal e aqui não neva,
mas, agora chegou a tarde calma, cheia de céu tranquilo.
O momento da Iniciação,
chegou lá na sombra do monte, onde fiz minha autopsicografia.
Naquele momento passou uma nuvem sob o sol que dorme, pois sem ele a vida é nada, apenas uma onda que, enrolada, está presa no Mundo que esquecemos.
Mas, eu nunca guardei rebanhos, sonhos, ilusões, pois o meu olhar é nítido como um girassol. Esta tarde a chuva caiu e fiquei debruçado sobre a janela. Há metafísica bastante em não pensar em nada, já que pensar em Deus é desobedecê-lo?.
De minha casa vejo o quanto posso saber do Universo.
De sol a sol não vejo mais rebanhos, já não me importo com as rimas, só raras vezes.
Quem me dera que eu fosse o pó da terra, o luar quando bate na relva.
Ah se eu pudesse trincar a terra toda.
O meu olhar azul não se entristeceria.
Conheci, hoje, que só a natureza é Divina.
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo, se às vezes digo que as flores sorriem, pobres flores no canteiro de meu jardim.
Acho tão natural que não se pense, e há poetas que não são artistas: vivem como um grande borrão de fogo sujo.
Bendito seja o sol de toda terra!
Da mais alta janela de minha casa meto-me para dentro e fecho a janela e vejo meu Mestre.
– Vem sentar-se comigo, filho, come à minha mesa, as rosas do jardim de Adônis estão contigo.
Segue o teu destino de poeta; não precisas recordar o passado.
A flor que és, não a que dás, eu quero; não quero só vinho, quero acabar entre flores, na antemanhã, quero deixar o Nevoeiro e seguir rumo à paz.
Marcos Abreu, poeta e escritor.