Quando ouvi pela primeira vez Pavane pour une infante défunte, logo pensei na tradução e fiquei triste, mas a música me inquietou porque despertava em mim uma calma abissal. Meus nervos adormeceram ao som das flautas, oboés e violinos. Descobri, naquele dia, que eu era um ser transcendente e que a música fazia parte da minha vida e movia minhas células, como o vento, as águas do mar.
Resolvi viajar nesta energia que finalmente encontrava o seu destino. Como um náufrago que avista a ilha, vou em direção à ilha e todo o caminho é um mar. Pesado, às vezes, no entanto, a ilha é um horizonte do qual me aproximo e deixo para trás os escombros do naufrágio do meu ser. A cada movimento dos braços, a cada metro vencido, sinto a terra mais perto e me preparo para vencer a onda e chegar à praia. Meus olhos, cheios de mar, não podem chorar neste instante, mas choram. O pranto e a água do mar se confundem e em mim sinto o mar vazando por meus olhos. E assim encho mais o mar e tenho a sensação de que o horizonte se afasta por causa do meu mar interior que vaza.
Respiro e me organizo para voltar à ilha que sou. Em pouco tempo, me vejo de volta ao mar, ilha repleta de horizonte por todos os lados. Percebo então que sou mais que ilha, sou arquipélago. E que as outras ilhas são seres, como eu, a boiar no oceano. Aceno para as outras ilhas e vejo que somos partes de um mundo onde as solidões se encontram.
Pavane foi feita para a vida, para a mulher que dança. Pavane toca e eu danço, repleto da alegria de viver.
Carlos Gildemar Pontes
Obrigado, Tania! A profundidade está no seu olhar.
Tania Coutinho
Muito profundo