OZOB, O FEITOR DA FAZENDA LIZARB

Lá, bem distante, num lugar de gente pobre e ricamente maltratada, existiam riquezas imensas, cobiçadas por gananciosos de muitas paragens.

Equívocos acontecem. Um gringo que perambulava curioso e apressado, olhando para o fundo da terra à procura de minérios, passou direto, pois confundiu a palavra LIZARB, terra rica e cobiçada, com Lizard, que em inglês significa lagartixa, um réptil, para alguns, desprezível. Não se perdoou. Afobado, coçou a cabeça com a mão direita e disse: – “TIME IS MONEY, Ozob deve estar ansioso à minha espera com seus quatro cachorrinhos treinados para lamber botas e farejar negócios escusos. Queira Deus que Orom esteja por perto com sua voz aflautinada. Quero tirar uma selfie para ilustrar nosso encontro sigiloso. Ele merece; é o nosso articulador secreto, padrão CHF”.

Bizus corriam soltos por vias sonoras, satélites e de boca em boca pelas veredas, iludindo a tudo e a todos; baitingas, ditos poderosos, instalaram agências organizadas para transformar verdades verdadeiras em mentiras absolutas. Pessoas comuns foram adestradas e se tornaram ricos-pobres, capachos eficazes em manipular palavras e frases da forma mais bizarra, mais ampla e mais desavergonhada. O propósito era subverter tudo:

Transformar vítimas em algozes e algozes em vítimas; superfícies lisas em superfícies ásperas e superfícies ásperas em superfícies lisas … … … e, com tudo misturado e subvertido, confundir e dominar o mundo de forma refinadamente tosca, onde o mundo real deixa de existir, premissas desaparecem e a subjetividade suprema surge. Tudo vira fantasia, imaginação, miragem; parâmetros desaparecem, irmanando: verdades e mentiras, juízes e criminosos, fascistas e humanistas, pretos e brancos, ricos e pobres … tudo em nome de uma divindade e de crenças enganadoras. A concretude some e o misticismo aparece em favor do perverso mercado capitalista.

Ozob, o feitor da fazenda, sente-se poderoso como um rei e é aplaudido por uma trupe ao desfilar desmascarado expondo todas as suas bobagens e idiotices, fazendo lembrar o conto de Hans Christian Andersen, O Rei Está Nu. Como o menino, um dos personagens do conto, não falou, um morador de uma pequena fazenda, pobre e distante, denunciou a nudez.

Observo redemoinhos e vejo Ozob nervoso e de olhos arregalados. De vez em quando, a poeira sobe e escutam-se palavrões e gritos de desespero.

Orom, o apontador da pocilga, cheia de porcos sujos e enlameados, que tanto contribuiu para que Ozob se tornasse feitor, foi convidado, por recompensa, para somar; como já estava dividindo, foi expulso sumariamente e está a ver navios, coitado! O contador ainda não foi expulso porque os “donos” da LIZARB não permitem. É homem cruel e de confiança. O Conselho Deliberativo, última instância nas decisões, está com as barbas de molho e acuado, para não dizer, desmoralizado, do 1º ao 5º, como diz a gíria. Dona Maroca, uma velhinha extrovertida e simpática, fala que tem mais medo do pandemônio que há na fazenda do que da pandemia. Dá um muxoxo e acrescenta: – LIZARB está abandonada. Estão mudando tudo pra pior. Lizarb era escrita com “S” e agora é com “Z”. Horrível!

Tudo está à deriva em Lizarb. Os protocolos éticos, morais, sanitários … foram todos quebrados. Matas são destruídas e incêndios aparecem, misteriosamente, dizimando a fauna e a flora. Episódios grotescos, de cortar coração!

As reservas dos silos estão sendo vendidas, mas ainda há bastante ração de safras passadas. Nada muito preocupante, cochicham entre si.

Ozob é tosco e bobo, galinhas e porcos sabem, mas é esperto e mantém a aparência de normalidade. O importante é o gado continuar mugindo e Ozob, o feitor da LIZARB continuar atacando, distraindo, aboiando, dizendo piadas sem graça e rindo sem pudor. Ele só sabe fazer isso, mas o faz com maestria e se garante. O deus dele ainda está satisfeito e segura as pontas.

Até quando?! Quem sabe?!

Gilmar Oliveira

Gilmar Oliveira, Professor Universitário.

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Gilmar Oliveira

Gilmar Oliveira, Professor Universitário.