Meia noite do dia seguinte. A máquina clareava o quarto escuro. Eu olhando pro teclado, eu olhando pro lado, eu olhando pra frente… “sobre o que vai ser esse?”, pensei comigo. Corria a mão pelas letras, trocava a música, olhava pra cima e nada! Nada vinha, nada ia, nada. Até que eu tirei o fone e notei que tava tudo quieto. Num silêncio. Um silêncio. Único. Uno; o silêncio é tudo o que temos, às vezes.
Sim. Certos os que não conseguem ficar em silêncio; ele maltrata. Não promete e nem apoia, ele só existe. Só existe? Não. É o Kafka quem diz: “Você não sabe a energia que reside no silêncio”. E é muito isso. Tem um quê de porquê pra gente pensar em quem somos no silêncio. Aquele individual, introspectivo, de um olhar pro nada, pro que parece distante; não aquele que é necessário, o que cala, o que prende, o que não é uno. Não quero saber do silêncio que não é libertação.
E vem disso também. Saber concordar com os nossos silêncios é o primeiro passo. Não sei pra onde, mas é. Concordar, sim. Pensar que ele é parte de ti e não há como se separar. Lidar é preciso. Sorrir com ele. Pensar nele como algo a mais, não como um fardo. Não como algo pra ser acabado sempre. Ele também merece existir, não acha? Vai me dizer que você só vive de barulho…
Reside aí uma dificuldade. O barulho dentro do silêncio. Difícil de conhecer e mais ainda de chamar pra conversar. Ele não gosta de conversas. Se acha maior e melhor sempre. Não suporta o diálogo. Ver um “caps lock” sempre me desperta um pensamento: será se fiz algo de errado? E fico com aquilo até entender. Às vezes eu não entendo, mas eu sigo caminhando. Tem gente que é muito “caps lock”, né?
Porque continuar é preciso. É preciso tanto mar pra alcançar o alvo. É preciso ser uma seta. Um dardo. Um não-descansar cotidiano que sabe a hora de parar. Pensemos mais sobre o que podemos fazer efetivamente, mas não deixemos de pensar no amanhã ou no que queremos nos tornar. Porque já somos. Sempre fomos e seremos. Mesmo que não figuremos nos anais da história popular, estaremos presentes no mural do que importa. Porque não se pode esquecer: o silêncio te acompanha e está dentro do teu lado pessoal. Talvez seja mesmo isso. Levar pro lado pessoal.
É esse levar pro lado pessoal; é como damos sentido.