Os ricos viraram o jogo: hoje imposto é coisa de pobre

Quem mais e melhor faz política no Brasil são as pessoas ricas. Não se engane. Elas estão por trás dos palcos. Manuseiam habilmente os cordéis, selecionam protagonistas e estabelecem os figurantes. O roteiro está definido desde sempre. A massa assiste. O show não pode parar.

Seu poder se reflete nas questões realmente decisivas. Elas começam por definir coisas aparentemente simplórias, mas efetivamente estratégicas. A pauta do parlamento e da imprensa e o tom da cobertura dos eventos. Assim controlam o andamento da gestão pública e fixam o que eles apelidam de “bola da vez”. Quem vai chutar. Quem vai ser chutado. Simples assim.

Sua lógica é infalível. Fazem contas rigorosas, estudam as questões, consultam e contratam os melhores especialistas. Defendem com unhas e dentes (de forma sutil, claro) seus interesses particulares, mas o discurso é que defendem os interesses dos mais pobres. Exemplo: o juro de suas aplicações tem que ser alto, mas o objetivo é proteger os pobres da inflação malvada.

Defendem o Estado mínimo argumentando que ninguém aguenta pagar tantos impostos, e impostos tão altos. Falso. Rico e poderoso paga pouco ou nenhum imposto. Pobre é que paga muito, demais até. Aí eles formulam a frase síntese que ferra os pobres: imposto bom é o que todos pagam, assim todos pagam pouco. Malícia e maldade perto da perfeição. Eles sabem que imposto foi criado para ser cobrado só dos ricos. Mas os ricos viraram o jogo. Imposto hoje é coisa de pobre.

Pedem uma reforma tributária. Mas a reforma não pode aumentar imposto, nem criar imposto novo. Ou seja, muda para não mudar. E deixar do jeito que está. Carga no lombo do pobre. Refresco para o “andar de cima”.

Viram a reforma previdenciária? Ferro na base da pirâmide. Refresco para militares e servidores do judiciário e parlamento.

Viram a reforma trabalhista? Precarização da relação de trabalho, que só convém ao empregador. Prejudica o trabalhador e esvazia o cofre da previdência. Ferro na base da pirâmide. De quebra, acabaram com os sindicatos. (Afinal, era um escândalo intolerável cobrar um dia de trabalho do trabalhador para manter o sindicato, imagine…).

Assim, controlando a pauta da imprensa e do parlamento, as pessoas ricas e poderosas vão costurando o modelo que lhes convém, indicando e apoiando candidaturas que não promoverão mudanças estruturais. Vale para o país, vale para o estado, vale para o município, embora ninguém se preocupe pra valer com questões regionais e locais, de menor valor, coisa de província…

Para temperar tudo isso basta usar argumentos universais: liberdade, democracia, igualdade e, sobretudo, a mais impalpável de todas, a ética. Nunca, nem ninguém pode defender os ricos. Seus interesses não são objeto de debate. Não devem, não podem ser sequer discutidos.

Instrumentos de controle: bolsa, câmbio, jornalistas, manchetes, pesquisas, economistas, cientistas políticos, frações da máquina pública…e agora, também as redes ditas sociais.

O candidato que se elegeu presidente disse em campanha: “vou botar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda”. A primeira parte está avançada.

Ele esqueceu de combinar com os russos, quer dizer, com os ricos. O jogo mal começou e a pancadaria já está comendo solta. Vai sobrar pra quem?

Capablanca

Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.