Abranhos chegou a ministro da marinha sem jamais ter posto os pés em uma embarcação. Sequer um galeão ou corveta. Levou-a ao comando da esquadra portuguesa a política, alguns arranjos e compadrios bem sucedidos. Nunca soube distinguir, sem ajuda prestante, bombordo de estibordo. Esta falta de ciência náutica não lhe fez falta. Subiu o Tejo, jusante acima e sempre encontrou a torre de Belém no seu lugar.
No Brasil, não correríamos este risco. Nossa esquadra não caberia no lago Paranoá, de Brasília.
O risco corremos agora com tantos ministros “in fieri”, em espera paciente e patriótica para assentar o traseiro triunfante nas cadeiras da República. Tantos sendo os candidatos, o almoxarifado do Planalto já se apressou para criar novos ministérios, aos quais possam ser recolhidos tantas vocações políticas, paisanos aprovisionados de muita ciência, juristas togados e patentes dotadas de muitas estrelas.
Grande movimentação dá conta das novas oportunidades de emprego: motoristas, ajudante de motoristas, togueiros, consultores, redatores de pautas e de discursos, jornalistas em penca que uma democracia não se constrói sem fabricantes de releases e de comentaristas juramentados. Jatinhos públicos e privados, que ministro é como pássaro, sacode as penas e bate as asas. Por pura vocação cívica. E os parentes à espera de demonstrar o seu talento nas beiradas do erário…
Mudança de governo é, na essência, uma revolução ministerial. Estamos na iminência de iniciarmos uma.