Os grandes dilemas da pré-candidatura de Ciro Gomes, por Cleyton Monte

O PDT lançou oficialmente a pré-candidatura de Ciro Gomes. Tendo participado de duas eleições presidenciais (1998 e 2002), o ex-ministro do governo Lula não desistiu do sonho de ocupar o mais alto posto da República. Sua terceira tentativa ocorre num cenário de fragilidade da esquerda, impopularidade da direita e em meio ao furação chamado Operação Lava Jato. Com mais de trinta anos de carreira, passou por diversos cargos e partidos, demonstrando conhecimento sobre a realidade nacional e uma retórica impecável. Nos últimos anos, sem ocupar cargos públicos, envolveu-se na defesa do mandato da presidenta Dilma, articulações eleitorais e palestras pelo Brasil. Nesse momento, busca uma aproximação com a esquerda. Entretanto, esbarra em uma série de obstáculos.

Fica cada vez mais claro que a esquerda não o aceita como candidato. Sua trajetória controversa o distancia dos militantes desse eixo político. Tudo indica que o PT terá candidatura própria, com ou sem Lula. Somado a isso, Ciro Gomes ostenta um tipo de liderança centralizadora e bonapartista, dificultando qualquer ligação com outras forças partidárias, impedindo-o de articular uma coalizão realmente competitiva. No modelo de eleição majoritária é quase um suicídio. Por fim, o ex-governador não amenizou o estilo bombástico e midiático, proferindo frases de efeito, desafiando autoridades e atacando medidas de forma intempestiva. Esse caminho passa a mensagem de desequilíbrio e de uma agenda puramente negativa. Pior: perde oportunidades de apresentar um projeto alternativo para o Brasil. Desde 2016, Ciro passou a ter mais espaço na imprensa e uma maior repercussão nas redes sociais, aparecendo em debates e entrevistas. Esses momentos poderiam ser aproveitados para discutir suas ideias, quem sabe até desenhar uma terceira via.

Dessa forma, a opção Ciro Gomes repete os mesmos pecados que o inviabilizara em outras circunstâncias. Seu discurso tonitruante permanece o mesmo e o brasileiro médio, influenciado pela grande imprensa, o identifica como mais um político tradicional nordestino, justamente numa época em que a imagem do antipolítico ganha força. Dificultando ainda mais o cenário, a história nos lembra que um candidato presidencial, para ter chances reais de vitória, deve contar com a força de partidos consolidados ou com o apoio de segmentos importantes da sociedade. Com os dois teríamos o melhor dos mundos. Apesar de líder do grupo político mais importante do Ceará, Ciro não tem essas forças a seu favor. Deverá decidir a finalidade de mais uma candidatura: alcançar 11% do eleitorado, repetindo o resultado de outras tentativas ou entrar na disputa e se mostrar uma liderança competitiva de envergadura nacional. Ainda há tempo para mudar a rota, resta saber como Ciro Gomes enfrentará esses dilemas.

Cleyton Monte

Doutor em Sociologia, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (LEPEM), membro do Conselho de Leitores do O POVO e professor universitário.

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Cleyton Monte

Doutor em Sociologia, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (LEPEM), membro do Conselho de Leitores do O POVO e professor universitário.