Oposição se faz com argumentos – HAROLDO ARAÚJO

Circula nas redes sociais um vídeo em que o apresentador William Bonner anuncia com veemência a demissão do ministro Roberto Alvim pelo Presidente Bolsonaro, em face de citação de frase análoga à de um carrasco nazista. No mesmo vídeo em que o apresentador anuncia a queda do ministro, há uma superposição (de imagens) da fala do ator global José Wilker (1944-2014) relatando sobre uma reunião com diretores da rede televisiva Globo, em data pretérita.

Está gravada neste vídeo a queixa do ator, ao lado da imagem de Bonner ao anunciar a queda do ministro Alvim. Na fala de José Wilker percebe-se a justa indignação do ator, porque os diretores não contestaram as ideias contidas no relatório de orientação das novelas sobre o Padrão Global. Inicialmente o relatório de Wilker contendo “um trecho” que foi copiado do livro “Mein Kampf” não sofreu contestação. Disse o ator que o trecho continha pensamentos do livro.

Na exposição, diz o ator global que havia perguntado a todos, se aquela citação era o que se pretendia para o padrão da rede televisiva? E todos haviam concordado, mas quando foi dito que aquele trecho era do livro de Hitler, o espanto foi geral, porque Hitler era o mentor do que de pior se poderia imaginar que um ditador seria capaz. Evidente que a citação causou perplexidade naquele grupo. A mesma que foi causada pela exposição do ministro demitido.

A iniciativa da citação do ministro foi punida com demissão. O erro de um subordinado pode ser análogo ao de um grupo de diretores. Mal comparando à figura dos proprietários da rede de TV à figura presidencial de Bolsonaro e relacionando os fatos pelo conteúdo, fica evidente que é grosseria dizer que ambos, Dr. Marinho e Bolsonaro pudessem, de longe, ter pendores nazistas. Fato que destacamos por qual razão? Os dois nunca foram nazistas, mas perfeitos democratas.

As nossas instituições democráticas, poderes da república e estados da federação devem atuar de forma impessoal e de modo a cumprir e ajudar o país na construção de caminhos e soluções. A responsabilidade nessa construção é de todos, assim como serão exigidos, também, o fiel cumprimento de missões que lhes são destinadas. Cortar verbas, reduzir despesas e adiar gastos que podem ser adiados, certamente, não é tarefa que aumente a popularidade de governantes.

Cumpre às instituições observar que as nações vivem um mundo conturbado de severas contestações e isso precisa ser observado com a necessária responsabilidade a que nos referimos. Uma delas é a busca da ordem e a produção de esclarecimentos pela via dos órgãos de divulgação. O Orçamento para propaganda é ínfimo, se comparado ao que já foi recentemente. Não são cortes por birra, mas de falta de recursos, decorrente dos ajustes fiscais.

Malversação do dinheiro público, corrupções e desvios de recursos, quando comprovados, precisam ser evidenciados e esses crimes, neste governo, estão afastados da gestão pública.  É dever da imprensa promover as críticas às administrações perdulárias e esclarecer as medidas de controle não registradas. Quando for o caso esclarecer e, se necessário à manutenção da ordem pública, evitar acusações sem comprovação. A ninguém interessa a desordem,

Não encontrando falhas na condução governamental, evidenciam-se avaliações de cunho pessoal, com excessivas adjetivações grosseiras e, às vezes, desprovidas de cuidados com o rigor da necessária reflexão e desejável visão crítica. Algumas apreciações são contaminadas pela empatia, emoção e passam longe da impessoalidade. Construções com sofismas, tentam fazer ilações de infelizes apreciações com analogias de falas de auxiliares da administração.

Uma abordagem que parece associar as construções do ministro demitido com o que pensa o Presidente. Imprensa e governo podem errar, mas oposição só se faz com bons argumentos.

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

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