O PROFESSOR COMO INCENTIVADOR DA LEITURA, por Carlinhos Perdigão

Uma das funções básicas da escola é ensinar a ler. Essa habilidade faz parte do processo de escolarização. Assim, observamos que a criação de leitores ocupa um espaço fundamental dentro da escola. E não poderia ser diferente! Afinal, ela ainda é um lugar privilegiado para o desenvolvimento da leitura e de leitores críticos e não-alienados.

Dentro de todo o processo escolar de aprendizagem da leitura, é o professor um personagem fundamental. Portanto, observando o processo citado como parte importante das atividades escolares, e pressupondo que o texto é produto de trocas sociais e resposta às necessidades comunicativas de interlocutores pertencentes a uma comunidade discursiva, este artigo busca refletir e situar exatamente a prática docente como elemento catalisador e incentivador do processo Texto-Leitura-Aluno-Mundo. Mas…

Qual seria mesmo o papel do professor em toda esta história? Obviamente que ele deve atuar como um mediador da leitura, como alguém que, interpondo-se entre o texto e o aluno, orienta sua fruição e desperta o aprendiz para o prazer e para a importância social do ato de ler. Assim, em decorrência desse contexto, o exercício pedagógico de formar leitores, objetivando aproximá-los da leitura prazerosa e/ou necessária e reforçar o potencial de leitor que há em todos nós, exige diálogos, respostas convincentes a diferentes questionamentos e visões – concomitantemente – sociais, culturais, políticas, estéticas e, até mesmo, lúdicas. Mas…

Podemos observar problemas dentro dessa esfera. Há perguntas que se impõem: os professores que insistem com seus alunos que é preciso ler, leem o quê? Qual a concepção de leitura para eles? O que eles pensam da leitura? Para eles, em que sentidos para a formação humana ela é importante? Eles a reconhecem como uma prática vital no mundo moderno? Entendem as suas funções sócio-culturais-ideológicas? Observam-na como um lugar privilegiado de transmissão de conhecimentos e crenças? Valorizam-na como um jogo de linguagem que ajuda a entender o mundo e até a transformá-lo? Destacam-na como partícipe das relações sociais entre as pessoas? Percebem-na como uma atividade cognitiva, que envolve processos mentais como a atenção, a percepção, a memória e o pensamento? Resumindo: o que a leitura significa e se constitui para os nossos mestres?

Esses questionamentos se impõem em virtude da constatação de que há professores que não sabem ler. E a falta de leitura de um elemento tão importante em todo esse processo de aprendizagem, multifuncional e extremamente complexo – como observado ao longo deste artigo, termina por deixá-lo capenga. Por outro lado, podemos afirmar que a demonstração de interesse pela leitura por parte do professor (e, portanto, o exemplo que ela a todos fornece!) incentiva o aluno a manter um contato amigo – e possivelmente prazeroso – com os diversos tipos de gêneros textuais existentes.

Em outra perspectiva, destacamos também – seguindo a nossa linha de raciocínio e percepção do assunto em foco – o valor social que o processo de ensinar a ler envolve. Afinal, entendemos o trabalho com o texto como uma prática contextualizada de aculturar o aluno. E também de trazer cultura para o professor, que precisa ter em mente a convicção de que novas visões do mundo, ou seja, novas aprendizagens (trazidas pela leitura!) poderão apoiar o seu trabalho de facilitador, de orientador e de agente do conhecimento.

Comentamos sobre as novas aprendizagens concordando com Ryron Braga, que no artigo O Perfil da Escola Pós-Moderna, situada no sítio www.uol.com.br/aprendiz/aprenderonline, traça o perfil do professor do futuro. Assim, Braga, em meio a diversas reflexões sobre o contexto sócio-educativo brasileiro moderno, afirma que o professor será: ”(…) Facilitador na busca, seleção de informações; orientador no processo de passagem da informação para o conhecimento; auxiliar na contextualização desse conhecimento com a realidade vivida pelo aluno; agente de desenvolvimento da capacidade de aplicação prática e útil desse conhecimento”.

Acrescentamos ainda, que o valor social da leitura que apregoamos neste artigo reside em aspectos cognitivos afetivos, emocionais, estéticos e éticos relacionados à vida não apenas dos nossos alunos e professores, mas igualmente daqueles que fazem e constroem este país. Sabemos que esses aspectos reunidos podem transmitir entre os jovens e adultos – ligados, de alguma maneira, à educação e à cultura brasileiras – os valores de cidadania e moral que a nossa sociedade deste início de século XXI tanto precisa.

Por fim, registramos que este simples texto não tem o interesse e nem a pretensão de esgotar tão grande temática. E acrescentamos que estamos cientes de que, em virtude de todo este retrato situacional, abordagens didáticas que preconizem a leitura e o trabalho com diferentes gêneros textuais, impulsionam uma relação cada vez mais crítica – e, portanto, renovadora, democrática e cidadã – entre a Escola, o Aluno e o Mundo. E entendemos que, em toda a extensão desta grande estrutura, o professor deve atuar como uma mola-mestra.

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