Enquanto o presidente recusa-se a governar, fazer algum tipo de planejamento e colocar em prática alguma racionalidade na gestão da máquina administrativa, o Brasil escorrega para baixo e para trás, no tempo e na qualidade de vida. Evidentemente a distribuição do sofrimento e da dor é desigual, tão desigual quanto a distribuição da riqueza. Há uma minoria que enriquece e acumula poder, dentro e fora das crises, assim como há uma maioria que sofre antes, durante e depois das crises. Os governos se sucedem e nada muda estruturalmente. A maioria pergunta-se como vai sobreviver à crise. A minoria aponta ao governo o que quer ganhar com a crise. Exemplo disso na pandemia é o socorro econômico na economia. Só o sistema bancário foi atendido com rapidez, com fartura e sem contrapartidas – o desemprego aumenta, o subemprego se multiplica, a precarizacão avança, as micro e pequenas empresas quebram. Há quem calcule a ajuda aos bancos em 976 bilhões de reais, mas termina não sendo de bom tom falar dessas coisas.
O fato é que a pandemia colocou uma nuvem cinzenta na vida de todos. Em compensação acendeu as luzes da percepção para quem quer realmente olhar e ver e entender o que está de verdade acontecendo. O presidente da República enfraqueceu-se. Ao completar dezoito meses de discursos vazios e propostas estranhas (medidas de trânsito, liberação de armas e munições, ameaças sutis de quebra institucional…a lista de bobagens é grande), até para os mais fanáticos ficou perceptível que ele não governa. Não governava antes, por opção. Agora não governa porque caiu da cadeira e perdeu a caneta, tão frágil e isolado está ficando.
O que sobra de seu mandato? O sistema financeiro, as grandes corporações e a grande imprensa querem (e vão insistir) na tal “Agenda do Guedes”, a versão repaginada da “Ponte para o Futuro” de Michel Temer, o vice que se disse “de decoração”. Privatizações (“vamos vender tudo, até o Palácio”), reformas e desmonte do Estado prestador de serviços e indutor de desenvolvimento em toda parte do mundo desde os anos 30 do século passado.
Não vai ficar pedra sobre pedra, se depender da Agenda de Guedes.
Não, o Brasil não melhora com essa Agenda, não volta a crescer, não melhora a qualidade de vida da população, não vai atrair investimento produtivo (nem de investidores externos, nem de investudores internos), não amplia o mercado dos empresários da indústria e do comércio (ao contrário, a demanda vai encolher, é óbvio).
Uma coisa é preciso reconhecer. O presidente da República avisou entre a eleição e a posse: “antes de começar a construir, há muito o que destruir”). Engana-se quem quer.