O ressurgimento dos tribunais inquisitórias, que operavam nas beiradas da exceção, moviam-se nos desvãos da Fé. A confissão consistia, ao tempo de Torquemada, na limpeza da alma e a destruição do corpo. A fogueira como o cutelo foram sempre uma forma eficaz de aviamento dessa assepsia patriótica.
Novidade não há em que, arrancando-se a confissão do suspeito, tomado de medo diante dos seus algozes, o faça tudo aceitar, inclusive a culpa que lhe é imputada. O medo e s vergonha, como instrumento da confissão, são esteio poderoso da construção de uma verdade conveniente.
Os tribunais da Inquisição usaram este método de persuasão com proveito. Ao separarem a cabeça do corpo dos hereges, os juízes e bispos, homens de uma incomensurável fé, salvavam com imensa misericórdia a sua alma da condenação eterna…
Nos governos militares, como no Estado Novo, experiências que mostraram, no Brasil, a quanto pode chegar o totalitarismo a serviço de ideologias, confessar, auto-incriminar-se e aceitar a chantagem dos acusadores eram prática comum e habitual.
A confissão, segundo princípio consagrado de direito e de práticas de aplicação de justiça, não vale por si, sem a comprovação dos fatos seguidos como elemento de suspeita e condenação.
Medidas como esta mergulham as sobras do que exibimos como registro de conquistas civilizatórias nas trevas do autoritarismo e da ditadura.
Não foi diferente nos tribunais nazistas, nos porões do bolchevismo soviético, o muro dos Castros foi uma regressão ao Terror de Robespierre.
Os “campos dominantes” dos governos populares que começamos por conhecer, na prática, no Brasil, os gabinetes do ódio e da verdade, são formas diversificadas da aplicação do poder do Estado autocrático e totalitário. Modelam um mecanismo de controle social e policial da opinião pelo medo, impõem regras concebidas na cabeça de juristas cooptados pelas oportunidades que o Estado oferece aos que se deixaram dominar por ideologias nas quais, a rigor, não acreditam.
A “delação premiada”, como os “batalhões da dignidade” aqueles que ferem mais profundamente os adversários, destruindo a sua honorabilidade, são armas que se servem da manipulação da verdade e submetem os suspeitos, ainda que não estejam condenados, ao medo e os tornam colaboracionistas dos seus torturadores.