O ODOR DA MORTE

Por entre as colunas de concreto e os vidros blindados, que protegem e escondem o ocupante do gabinete presidencial do Brasil, e sua corriola de ministros igualmente genocidas como o da saúdeexala o odor da morte de mais de 215 mil cadáveres de brasileiros, vitimados pela negligência e a incúria administrativas desse (des)governo, revelando em cada um dos seus integrantes o mais abominável dos sentimentos humanos, (desumanos), que é o desprezo pela vida do outro. É imperioso lembrar que somos apenas 2,7% da população da Terra, e respondemos por 10% dos mortos em todo o mundo pela Covid.

O que aqui afirmamos ficou provado ainda no ano passado (todos se lembram), quando o capitão da morte mandou cancelar a compra das primeiras vacinas Coronavac42 milhões de doses pelo simples fato de ser medicamento chinês. Percebem quanta falta estão fazendo para imunização dos 30 milhões prioritários? Essa aquisição havia sido comunicada pelo mentirosoministro da morte, Eduardo (dia “D”, hora “H”, oxigênio) Pazuello, que foi obrigado a desmentir a informação 24 horas depois, não sem antes ser humilhado publicamente pelo seu chefe.

Outro fato que chama atenção no campeonato das vacinas, Doria X Bolsonaro, foi a demora na aprovação para uso emergencial, pela ANVISA, com direito a exibição em rede nacional de televisão, algo nunca visto na história dessa instituição. Foi uma tentativa de recuperar a credibilidade científico-técnica, arranhada em razão do uso político a que foi submetida no atual (des)governo.

A fúnebre realidade vivida pela população de Manaus, na última semana, que comoveu o mundo, confirma que o negacionismo e a eugenia bolsonarista fizeram escola, sendo o governador do Amazonas, Wilson Lima, seu aluno mais aplicado e desprezível.

Sua negligência e o desprezo pela vida conduziram muitas pessoas a agonizarem até o decesso vital por falta de oxigênio, revelando sua crueldade e do que um genocida é capaz.

O mais surpreendente é que, em vez de assumir suas responsabilidades pedir perdão ao Brasil pela desídia e pelos crimes cometidos, admitindo que errou quando afrouxou as medidas de isolamento social, cedendo às pressões do capitão da morte”, quando esteve em Manaus, fazendo campanha pelo não fechamento do comércio preferiu atribuir as cenas horrendas a que o mundo assistiu pela televisão à variante do vírus, que internacionalmente está sendo chamado de “bozovirus”.

Eles, no entanto, não estão sozinhos na prática do cometimento desse que pode ser considerado “crime contra a humanidade”; a eles se juntam as “luxuosas” companhias dos integrantes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal – STF, que, como instituições guardiãs dos direitos individuais e coletivos da sociedade, onde a vida é o bem maior a ser protegido e preservado,silenciaram.

Por interesses subalternos e falta de uma atuação politico-jurídica como se espera das instituições democráticas, se omitiram do papel constitucional que lhes cabem; e deixaram esse genocida continuar brincando de matar. Por issonos seus amplos salões e luxuosos plenários, estão empilhados os mais de 215 mil cadáveres, para que também sintam o odor da morte.

Deve ser lembrado o fato de que,no início da pandemia, quando se choravam os primeiros 20 mil mortos pela Covid, o negacionismo se intensificava, aliado ao exercício ilegal da Medicina, via rede nacional de televisão, pelo demente charlatão capitão da morte”. Este, então, receitava abertamente o uso indiscriminado da tal cloroquina,sem qualquer eficácia comprovada, e recomendava que a população não deveria ficar em casa nem usar máscara. A tudo isso se somavam os sucessivos ataques as outras instituições e o descumprimento da Constituição; ali já estavam dadas as condições para que o Congresso e o STF interrompessem a trajetória desse sádico, pois, na divisão dos poderes,cabe aos legisladores e aos doutos juízes da Suprema Corte essa função.

Como não o fizeram, faço saber que as centenas de milhares de órfãos que choram a morte dos seus pais, as milhares de viúvas e viúvos, com dificuldades para criar seus filhos, as centenas de milhares de sonhos e histórias de vida interrompidos, são também responsabilidade dos senhores, por terem se omitido do cumprimento do dever legal, que seria a interrupção, via impeachment, ou por meio de outro instrumento legal, das ações dessas mentes doentias e perversas indiferentes à dor e à comoção de toda uma Nação. Continuarão impunes? Até quando?

Por isso, senhores ministros e congressistas, sintam o mau cheiro que exala dos mais de 215 mil cadáveres, que vocês, pela omissão, deram causa aos seus óbitos; experimentem, ainda, a dor dos que agonizaram até morrer pela falta de um cilindro de oxigênio, pois todos os males e sofrimentos causados pelo bolsonarismo doentio e perverso são, também, responsabilidade dos senhores.

No contexto dessa realidade sombria, o Brasil já é um grande necrotério, onde os vermes que corroem essa Nação se alimentam dos cadáveres deixados pela Covid, e nutrem o mórbido sentimento de desumanidade e indiferença pela sociedade em geral, especialmente pelos pobres que são os mais suscetíveis a contaminação pelo coronavírus, que, por necessidades e instinto de sobrevivência, se expõem ao vírus em grau muito maior.

Para aqueles que ainda mantêm intacto o uso da razão, é impensável  deixar que falte oxigênio para acudir a população de qualquer cidade brasileira, enquanto o ministro da morte exercita o charlatanismo bolsonarista receitando cloroquina, agora disfarçado de um tal tratamento precoce”, mesmo depois da ANVISA ter declarado não existir qualquer evidência científica da sua efetividade no tratamento do coronavírus.

A propósito das supostas propriedades terapêuticas da cloroquina no tratamento da Covid, o Governo do Cea financiou uma pesquisa, por meio da FUNCAP, junto ao Departamento de Farmacologia Clínica/UFC, e espera receber os resultados nos próximos dias, para saber se há comprovação científica para uso profilático no combate ao vírus.

A pergunta que se faz é, como ser indiferente à morte de pessoas por asfixia, nos corredores dos hospitais, e não atuar com toda autoridade e a responsabilidade que lhe cabia, como fez esse verme ministro da morte quando esteve em Manaus? Na semana anterior à falta de oxigênio em todas as unidades de saúde, ele havia sido informado do problema e ainda assim viajou sem tomar qualquer providência, para depois apresentar como motivo a cínica desculpa de que a força aérea não dispunha de boeing para transportar os cilindros, embora o Ministério da Saúde já soubesse do iminente colapso pelo menos dez dias! Reparem a quem está entregue a saúde do povo brasileiro!

A pergunta que todos fazemos é: – por que não alugou quantos boeings fossem necessários para fazer o transporte e acudir às pessoas e evitar que morressem daquela forma tão sofrida? Nosso respeito e reconhecimento aos médicos e a todos os profissionais da saúde, que mesmo nas situações mais adversas, nunca se omitiram.

O mais surpreendente é que o requisito mais ressaltado em seu currículo é que ele seria um especialista em logística, e não foi capaz de fazer chegar a tempo, aos hospitais de Manaus, os cilindros de oxigênio tão necessários para salvar a vida daquelas pessoas que vimos agonizar até a morte. Imagine se não o fosse!

Senhores genocidas: a vacina, pelo seu valor científico e eficácia comprovadas em todos os ensaios e testes clínicos, vai conter a velocidade da transmissibilidade do vírus, vai reduzir significativamente o número de infectados e mortos daqui para frente, (se houver vacinas suficientes), mas suas máscaras que só recentemente passaram a usar, especialmente pelo capitão da morte,continuarão impregnadas pelo fartum exalado dos cadáveres dos pais e mães, esposos e esposas, irmãos e irmãs, filhos e filhas, tios e tias, cunhados e cunhadas, primos e primas, amigos e amigas, que os senhores, pela prática genocida com que se conduziram até aqui, deram causa as suas mortes.

A pandemia vai passar, mas o bodum da morte não, e vocês vão continuar cheirando para nunca mais esquecerem dos crimes que cometeram. Até aqui a pandemia teve o vírus como causa a ser combatida, desde agora, pelas vacinas, e três inimigos ainda mais difíceis de enfrentar: o negacionismo do governo, a mente doentia e criminosa do presidente e as mentiras do ministro da morte.

Saibam os estúpidos desse governo e seus aliados que a culpa por essa monstruosidade cometida contra o povo brasileiro é de vocês, e já está registrado pela história. Se, por acaso, os doutos juízes do STF, em um lapso de consciência, mesmo que tardiamente, fizerem a justiça se realizar, vocês pagarão pelos seus crimes, pois não lhes restará lugar para se esconderem, e menos ainda um refúgio para se livrarem do peso da culpa. Tenho dito!

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Arnaldo Santos

Arnaldo Santos é jornalista, sociólogo, doutor em Ciencia Política, pela Universidade Nova de Lisboa. É pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza – LEP/CAEN/UFC, e do Observatório do Federalismo Brasileiro. Como sociólogo e pesquisador da história política do Ceará, publicou vários livros na área de política, e de economia, dentre eles - Mudancismo e Social Democracia - Impeachment, Ascenção e Queda de um Presidente - sobre o ex-Presidente Collor, em 2010, pela Cia. do Livro. - Micro Crédito e Desenvolvimento Regional, - BNB – 60 Anos de Desenvolvimento - Esses dois últimos, em co-autoria com Francisco Goes. ​Arnaldo Santos é membro da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo – ACLJ, e da Sociedade Internacional de História do século XVIII com sede em Lisboa.

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Arnaldo Santos

Arnaldo Santos é jornalista, sociólogo, doutor em Ciencia Política, pela Universidade Nova de Lisboa. É pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza – LEP/CAEN/UFC, e do Observatório do Federalismo Brasileiro. Como sociólogo e pesquisador da história política do Ceará, publicou vários livros na área de política, e de economia, dentre eles - Mudancismo e Social Democracia - Impeachment, Ascenção e Queda de um Presidente - sobre o ex-Presidente Collor, em 2010, pela Cia. do Livro. - Micro Crédito e Desenvolvimento Regional, - BNB – 60 Anos de Desenvolvimento - Esses dois últimos, em co-autoria com Francisco Goes. ​Arnaldo Santos é membro da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo – ACLJ, e da Sociedade Internacional de História do século XVIII com sede em Lisboa.