O LADO BOM DA PANDEMIA

Uma montanha pode ser vista por vários ângulos. A paisagem do sopé ao topo é bem diferente da paisagem do topo ao sopé. Eu gosto mais desta, porque respiro o ar mais puro e vislumbro toda a beleza da montanha e todo o seu entorno. Tenho igualmente a possibilidade de contemplar o horizonte que ostenta belezas infinitas. Ah, como é bom estar lá no cume!

Toda realidade é também assim. Você a enxerga de onde você está, física e espiritualmente.

Conta-se que um homem estava triste e foi à janela numa noite sem lua e falou: quanta escuridão, vou sair daqui. Sua esposa, que estava ao seu lado, olhou e disse: amor, que noite linda! quantas estrelas!

“Todo ponto de vista é a vista de um ponto”, em qualquer situação.

A mídia corporativa burguesa e manipuladora faz isso com muita competência. Cria uma narrativa do ponto de vista do Capital Financeiro e das grandes empresas que a financiam. Dessa vez, perdeu um pouco o controle e está sendo levada de roldão pelas informações globais da pandemia: colapso dos sistemas de saúde; mortes e mais mortes; narrativas que pingam sangue, apavoram e deseducam. Podiam criar quadros com informações técnicas, sucintas e compartilharem entre si de forma calendarizada. Isso não acontece porque o sencionalismo que deseduca, mas dá IBOPE, é o que vende.

Queria ver essa MÍDIA, insanamente POLITIZADA e perversa, levantar grandes denúncias de fatos que impediram ações estruturantes do sistema sanitário brasileiro há muitas décadas; 

 Queria ver essa MÍDIA, insana e MANIPULADORA, fazer o levantamento das mortes causadas pela retirada criminosa do Programa Mais Médicos;
Queria ver essa MÍDIA insana e ELITISTA, promover debates com autoridades sanitárias governamentais e cientistas da área de saúde para mostrar à população as duas visões panorâmicas da pandemia: a visão do topo e a visão do sopé dessa montanha catastrófica;

Queria ver essa MÍDIA, insana e SELETIVA, assumir o caráter e a ética de uma imprensa livre e independente, empunhando a bandeira da “verdade, doa a quem doer”, que me faz lembrar o eminente Cid Carvalho;

 Queria ver essa MÍDIA, insana e VENAL … … … .

Enquanto essa mídia não cumpre o seu papel com dignidade profissional, escalarei com os pés descalços e com o peso dos meus 78 anos, os caminhos sinuosos, cheios de pedras e espinhos que me levam ao cume da montanha PANDÊMICA DA COVID-19. De lá, projetarei “flashes” da realidade e sopros de esperança.

VEJAMOS:

Ricos nos palacetes dormindo e ricos pobres nos tribunais, nos parlamentos, nas instituições públicas de segundo, terceiro e quarto escalões, comandando / explorando e obedecendo servilmente como lacaios do poder, no dizer Jessé de Sousa.

Pobres nos chão das fábricas, nas empresas de serviços e nos roçados;

Miseráveis desempregados e desassistidos, recebendo algum apoio do MST e do MTST ou soltos como cães sem dono no dizer popular;

… … … .

O lado bom da pandemia é a quebra de paradigmas que ela trará. Provavelmente haverá: mais solidariedade e menos arrogância; relações mais fraternas; mais espírito de partilha; mais igualdade, menos fome e menos sede de justiça; sistemas mais bem estruturados; indivíduos e empreendimentos mais inventivos e inovadores; estratégias de sobrevivência e crescimento mais eficazes;

… … … .

As mudanças serão sólidas e aceleradas com base no “se funciona é obsoleto”. E isso é bom porque haverá um surto de desenvolvimento rápido e sustentável na comunicação, na diplomacia, na ciência, na tecnologia, nas artes, no modo de viver … … … .

Malgrado tantas vidas ceifadas (hoje um cunhado meu nos deixou), mesmo com um lenço enxugando os olhos, escolho estar sempre no pico da montanha, vendo estrelas no céu nas noites escuras e sinais de vida em corpos estendidos de irmãos que dormem “ad aeternum”.

Gilmar Oliveira

Gilmar Oliveira, Professor Universitário.

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Gilmar Oliveira

Gilmar Oliveira, Professor Universitário.