Era um domingo de alegria. Naquela tarde, estádio lotado, disputava-se a final do campeonato de futebol. De cada lado um dos dois grandes times da preferência absoluta da torcida. Jogo duro e equilibrado, lances emocionantes . O tempo foi passando. A atenção das torcidas aumentava a cada minuto. O jogo fluiu emocionante, cheio de lances perigosos, e já se aproximava do fim. O zero a zero do placar só provocava a tensão. E chegou o último minuto.
De repente, o juiz marca um pênalty que não houve. Não houve mesmo. Protestos, vaias, o estádio quase vem abaixo. Um absurdo. Mas, juiz é juiz. Pênalty batido, bola na rede. Fim de jogo.
Quando o juiz da partida já abandonava o campo, dirigindo-se aos vestiários, um grupo de cem torcedores pulou o alambrado e invadiu o gramado. E tome tapas e tabefes no árbitro, até chegar a turma do ´deixa disso´. Ferido com certa gravidade, mas sem risco de vida, o juiz é levado ao hospital. Foi tratado e posto para dormir.
No outro dia, ele acorda e lembra da confusão imediatamente, e num instante toda a sua carreira de árbitro lhe passa na mente descansada, mas inquieta. Cheio de curativos no rosto e alguns pontos na testa e no supercílio, pergunta ao assistente que o acompanhou no jogo e estava ao lado da cama:
— Como foi tudo?
— Um desastre, uma tragédia, pior impossível – responde o assistente.
Ele, então, pergunta:
— E a torcida? Me interessa a torcida. O que a torcida achou, o que a torcida disse?
O assistente responde:
— A torcida ficou dividida em duas opiniões. Cada metade pensa de um jeito.
O árbitro encheu os olhos e animou-se. Nem tudo estava perdido, pensou.
Quase entusiasmado perguntou ao assistente:
— O que disse a primeira metade?
O assistente responde:
— A metade disse: “Esse juiz é um filho da puta!”.
O árbitro encolheu-se na cama do hospital, triste. Passou um segundo, reanimou-se e, cheio de esperança, perguntou ao assistente:
— E a outra metade? O que a outra metade disse?
O assistente respondeu:
— A outra metade disse o contrário: “Esse filho da puta lá é juiz”.