O encruado nasceu, anunciam os jornais com letras gigantescas. Logo abaixo a matéria informa: possui aspectos preocupantes, saúde fragilizada, tamanho e peso bem menores do que o normal, não fala, não enxerga, ouve muito pouco, apenas se esperneia em choro alto e forte. Os médicos são pessimistas em relação ao tempo de vida, ainda assim continuam o acompanhamento na esperança de um milagre.
Essa é uma analogia não recomendada para pessoas que possuem dificuldade para reflexão sem paixão, análise sem corporativismo, criticidade sem partidarismo. É um texto para quem a régua de medir é ampla, para quem acredita na ciência e tem a religiosidade apenas como algo importante, mas não determinante para as decisões cotidianas. É a estória de uma criança que apesar de tudo, teimou em nascer. Suas dificuldades? Conheceremos em breve.
Nove meses é um número simbólico, é o tempo necessário para germinar uma semente que virá ao mundo para ser única. Sim, os seres humanos são únicos! Estéticos, com capacidade de abstração, dominantes de um complexo sistema de linguagem, únicos no planeta e únicos em suas individualidades. Mesmo que em momentos se comportem de maneira parecida, se movam em bandos, ainda assim são únicos em si.
Nove meses é o tempo para se observar um florescimento, uma nova vida que surge, mas no Brasil nove meses teve efeito contrário. Estou falando do tempo que já estamos ao dissabor do novo governo. Em vez de nove meses de crescimento, como a barriga da genitora que cresce e cresce, ou como o embrião que começa menor que a palma da mão e chega a tomar conta dos braços de um adulto quando fora da barriga. Os nove meses de governo foram de atrofiamento, de incrustação. O país diminuiu e não só na economia.
O país encolheu em preservação do meio ambiente, não só pelas queimadas, de uma gravidade percebida internacionalmente, mas também pelo despejo de agrotóxicos em nossa lavoura. Na política, invisível, de legalização da grilagem, da derrubada desmedida de árvores por madeireiros, da caça inconsequente de animais terrestres e marinhos, pela invasão de terras para mineração e garimpo, esvaindo-se assim nosso compromisso mundial de preservação ao meio ambiente. No discurso deliberado de ódio a povos indígenas, ribeirinhos e demais protetores da fauna e flora brasileiras e pelo desmantelamento e criminalização dos órgãos de defesa e proteção ambiental como IBAMA, INPE, FUNAI, ONGs e outros.
Verdade seja dita, já não éramos um grande modelo de preservação e combate aos destruidores da natureza, Brumadinho e Mariana são provas disso. Ainda assim, o caminho atual é de queda vertiginosa na proteção a algo, não só necessário para a existência humana, mas também considerado na atualidade como um ativo econômico para qualquer país.
No campo social, o amofinamento também pode ser observado a partir das inúmeras tentativas de confisco dos direitos às minorias. Assim caminhou a jornada de enfrentamento ao movimento LGBTQIA+ com discursos homofóbicos, a perseguição nos editais de fomento à cultura que premiaram espetáculos teatrais e filmes com esta temática. A infância sendo afetada por conceitos retrógrados sobre que cor deve ser a preferida de meninos e meninas, azul e rosa como norteadores do desenvolvimento estético e cognitivo das pessoas. A incansável sanha para a aprovação de uma reforma previdenciária protegendo militares e milionários, neste ressalto que a Câmara e o Senado, no papel dos presidentes das casas, também foram patrocinadores de tal empreitada.
Em nove meses o cuidado com a genitora precisa ser ampliado e constantemente acompanhado. Boa alimentação e descanso são fundamentais, no entanto o governo alimenta suas redes sociais com pronunciamentos degradantes aos trabalhadores – “ou se tem emprego ou se tem direitos” – aumentando o estresse e a preocupação de trabalhadoras mães de família já cansadas das duplas jornadas cotidianamente vividas.
Na política internacional passamos de membro de destaque e postulante à cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU para motivo de chacota e apreensão. Isso teve início com o primeiro discurso do presidente Jair, fora do cercado brasileiro. Tal fato ocorreu em janeiro no Fórum Econômico Mundial em Davos, um discurso genérico com duração de aproximadamente sete minutos, apresentava ao mundo uma gravidez de risco.
Fato que se comprovaria exatamente nove meses depois quando, na assembleia geral da ONU, tantas vezes aguardada com entusiasmo pelo discurso de abertura proferido pelo presidente brasileiro, o mundo teve a certeza de que o aborto poderia ter sido o melhor caminho para nós. Dados falseados, premissas equivocadas, tom agressivo e ameaçador foram as armas escolhidas para anunciar o nascimento do novo Brasil.
Afirmam os médicos que uma gravidez precisa ser saudável para a genitora e para o embrião, caso contrário o feto poderá nascer com problemas que afetarão o desenvolvimento motor e cognitivo. No caso da educação brasileira, as precariedades surgiram antes mesmo da fecundação do óvulo, uma espécie de coito indesejado e violento forjou a tal gravidez. Assim, ainda no período de campanha e apoiado por movimentos de extrema direita, o até então candidato e futuro presidente conclamava em suas redes sociais seus apoiadores ao ataque contra professores. Estes eram apresentados como os grandes vilões do país, promoveram uma cruzada nacional empunhando a bandeira de caça à intelectualidade e tendo como estratégia de guerra a filmagem das aulas de professores que não se adequam aos seus destemperados desejos. Uma tentativa de privação do pleno exercício da profissão dos ditos educadores.
Nos primeiros meses de gravidez o obstetra_carnicero da educação Velez Rodrigues emitia uma circular às escolas intimando-as a filmarem crianças cantando hino e enviarem ao MEC. Qualquer médico obstetra diria: não aperte o bebê, vista roupas leves, tenha cuidado para não fazer pressão sobre a barriga. Velez, ao contrário, propõe compressão ao exercício da docência e aos estudantes. Os médicos foram trocados, entrou o Weintraub, o acompanhamento da gestante piorou. Este, sequer sabe ler prontuários e escrever laudos. Aliás, este é incansável na empreitada de diminuir um dos maiores educadores do país, com reconhecimento internacional, a um estúpido e maquiavélico manipulador de ideologia. Weintraub ao se olhar no espelho, enxerga Paulo Freire.
É outubro e com o nascimento dele veio, a inoperância e o fatídico silêncio arrastado por um mês enquanto o petróleo invadia nosso litoral causando mais um desastre ambiental. O choro pelo veto contra a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas tão cheias de adolescentes adoecidos. A incapacidade de movimento com submissão ao governo norte-americano que mesmo sem indicar o Brasil para a OCDE, continua com os privilégios de um acordo profundamente prejudicial a nossa soberania. A entrega da base de Alcântara e a abertura total de nossas fronteiras aos americanos, mostra que só é possível andar com o auxílio do adulto Trump. Ficamos à mercê do senhor de cabelos laranja.
A medicina explica que um pré-natal mal feito pode causar sérios danos para a criança ao nascer. Além disso, uma criança mal-amada e mal-educada durante a infância, tem grande tendência a um fim trágico e violento. Será este o destino? Será que se chega até lá ou será abatido a bala, este encruado, antes de chegar a maioridade?