O desgaste da disputa de poder atinge a todos – HAROLDO ARAÚJO

Certa feita em reunião de jornalistas, provoquei brilhante editor cearense da imprensa local. Perguntei se poderia um articulista escrever com imparcialidade e a resposta estava pronta: Não. Todos serão contaminados por suas paixões e crenças pessoais. Não perguntei se seria possível que a desejada imparcialidade ficasse com a interpretação da notícia, como fazem os âncoras depois de transmitir com a devida cautela, comentam sim com a necessária isenção.

Destacado telejornal, costuma apresentar a defesa dos citados, apenas quando estes se manifestam. Muito cautelosa a direção da rede jornalística, é fato, mas há em outros grupos (de comunicação), quase sempre, um comentarista que se firma como de grande ajuda à quantos não têm a oportunidade de esgotar e debater o assunto. Afinal, é essa a missão jornalística: Informar aos que acompanham as gestões públicas o que fazem com seu suado dinheirinho.

O patrono do Senado da República Federativa do Brasil, Ruy Barbosa (1849-1923) destacou-se como jurista e, também, como jornalista, quando nos legou brilhantes pensamentos acerca da importância da imprensa na política. William Waack, competente jornalista da CNN, discorre sobre a importância da credibilidade na imprensa: Perder a credibilidade é comparável à quebra de uma peça de cristal que, quebrada, nenhuma emenda a fará voltar a ser o que já foi.

Ruy Barbosa afirmou que a imprensa é a “vista” da nação e por ela é que o povo acompanha o governo: A sua atuação cuidadosa é benéfica às políticas públicas de um país, porque será capaz de perceber e transmitir à todos o que lhe ocultam ou roubam (dizia Ruy). Pensadores extremados completavam: Os olhos e os ouvidos da nação. Os mais exaltados se manifestavam: “O nariz também”. Tudo que se noticia, repercute simultaneamente na imprensa lá fora.

Podemos reafirmar que, de Ruy Barbosa a William Waack, consolidou-se a importância crescente da imprensa na política, que está relacionada à preservação dessa comentada credibilidade. Não interessa aos políticos e nem às grandes redes de comunicação (rádios, jornais e TV) uma disputa como a que agora se observa no país. Um jogo de perde ganha, que não vai ao encontro da estabilidade política. Um confronto em que todos nós perdemos.

Lembro de uma reunião entre comandantes dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), com vistas à pacificação dos confrontos de ideias e, em face do momento, firmou-se uma espécie de acordo para que se pacificasse uma “guerra” que não beneficiaria o povo em nada. Afinal é o povo que, em última instância, comanda e manda, em última instância, os pagantes, através dos impostos. Estamos todos à espera dessa recuperação econômica que não chega.

O Brasil vem superando uma fase em que os políticos despencavam no descrédito. A democracia nos permitiu fazer uma travessia praticamente sem traumas e sem rupturas. As instituições também conseguiram se superar, agora já ajudam a consolidar o processo democrático. Nosso objetivo é fazer um apelo para uma nova “concertação” entre os poderes e a imprensa de modo a evitar que essas instabilidades virem uma corrente de transmissão para a economia.

O país é um só e podemos afirmar que todos nós, enquanto povo, carecemos de competência política e patriotismo no sentido de buscar pontos de consenso e convergência de objetivo, para obter um salvo conduto rumo à recuperação econômica. Estamos chegando à um ponto em que nossos verdadeiros adversários estão identificados e estão lá fora do Brasil. A travessia dessa tempestade de mar revolto não é carente de diagnóstico, mas de coragem para enfrentar.

A briga entre os poderes constituídos atraiu a imprensa e esta cometeu um grande erro ao se envolver e tomar parte. Credibilidade é como um cristal que depois de quebrado não tem jeito.

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

Mais do autor

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.