O DESESPERO DA GLOBO, por Alexandre Aragão de Albuquerque

Os últimos lances do ataque instalado por Sérgio Moro, que busca de todas as formas criminalizar a verdade revelada pelo jornalismo investigativo de Glenn Greenwald de extremo interesse para povo brasileiro, são muito esclarecedores, ajudando-nos a compreender um pouco mais as “ligações íntimas” de certos atores políticos com o poder midiático da Rede Globo.

Desde a publicação da referida portaria 666, editada pelo ministro no último dia 25, que dispõe sobre “o impedimento de ingresso, a repatriação e a deportação sumária de pessoa perigosa ou que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal”, o Jornal Nacional (JN) tem praticado uma intensa narrativa editorial visando a gerar um condicionamento na mente de seus telespectadores, e com isso consolidar neles uma convicção, ao abordar REPETIDAMENTE, seja pelo texto, como principalmente pelas imagens, a questão por um único ângulo, olvidando explicitamente tocar com a devida profundidade e amplitude jornalística em aspectos que denunciam as evidências de ilegalidades e contradições do ex-juiz e agora ministro Sérgio Moro. Fica evidente que nesse caso o interesse da Globo não é jornalístico, mas político. Isso ocorre na cobertura da prisão temporária de quatro jovens tidos supostamente como fonte anônima fornecedora dos dados para Glenn.

Vale lembrar, quando do episódio dos comentários ineptos de Bolsonaro contra Miriam Leitão, o JN em nota saiu imediatamente em defesa da jornalista global afirmando entre outras coisas que as “afirmações do presidente causam profunda indignação e merecem absoluto repúdio. Em defesa da verdade histórica e da honra da jornalista Miriam Leitão, é preciso dizer com todas as letras que não é a jornalista quem mente”.

Com relação ao jornalista Glenn Greenwald, a Rede Globo não se comporta com a mesma prontidão e dimensão ética em defesa da verdade histórica. Por que será? O que a incomoda tanto no trabalho jornalístico do Intercept Brasil? Ela teme que  possíveis ligações telefônicas ou as mensagens de texto entre Moro – Dallagnol – Globo também estejam registradas no material que Greenwald detém? O que essas mensagens revelariam? Que armações teriam montado?

Em entrevista concedida à Globo News, na noite do dia 26 de junho passado, o ministro Gilmar Mendes (STF) destacou as anormalidades da condução do processo contra o Presidente Lula, reveladas por Glenn Greenwald, praticadas pelo então juiz de Curitiba, Sérgio Moro, no qual ele “presta consultoria continuada” aos assim chamados procuradores, “indicando testemunhas”, “cobrando resultados”, “assegurando a certeza de resultados dos julgamentos”, não obstante a “ausência de provas substanciais de acusação”. Mendes atesta que nenhum advogado consulta um juiz para saber se ele vai deferir ou não um processo. Quantas vezes o advogado de defesa Cristiano Zanin trocou mensagens pelo Telegram com Moro pedindo ajuda, conselhos, indicações e cobrando resultados? Um juiz assessorar o ministério público é algo absolutamente anormal. Isto não existe. Mas, diante disso a GLOBO SILENCIOU, não se preocupou em sair em defesa da verdade histórica.

O ministro do STF prosseguiu com sua análise, recordando que nos últimos anos houve no Brasil aquilo que ele chamou de “naturalização do absurdo”, sendo o País submetido ao Signo do Vazamento Institucionalizado (pela Globo). Recorda que o ministro Teori Zavaski reclamava disto o tempo todo: “mal chegava um documento em suas mãos, este já houvera sido vazado e publicado”. E adverte: o vazamento de documentos oficiais é CRIME. O agente público que promove um vazamento é um criminoso. Não se pode admitir que funcionários públicos, sejam eles juízes ou procuradores federais, cometam esses crimes sistematicamente, promovendo antecipadamente o linchamento público de biografias e até mesmo de vidas, como foi o caso de Luiz Carlos Cancelier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, para quem a Universidade era a sua própria vida, submetido a humilhações públicas, acusado levianamente por desvio de verba, submetido a conduções coercitivas, nada tendo a ver com aquele caso. O resultado foi o seu suicídio. Quem será responsabilizado por esta morte?

Por último, Mendes ainda destaca duas questões importantes. Primeiro, conversando com o deputado Kim Kataguiri, ele comenta com o deputado o fato inusitado revelado pelo Intercept: Moro haver pedido desculpas ao MBL por um fato que não aconteceu, segundo o juiz da força-tarefa. Além disso, Gilmar cobra uma posição definida desses agentes públicos (juiz e procuradores) suspeitos de Curitiba: fizeram ou não fizeram aquelas conversações? Isto aconteceu ou não aconteceu? Porque até agora nenhum deles desmentiu as revelações do Intercept, da Folha, da Veja. Ficam tentando desqualificá-las, mas não dizem que não ocorreram.

A Globo silenciou. Não foi em busca da verdade histórica, nesse caso. Por que será? Em quantos outros casos terá se comportado da mesma maneira? É possível continuar acreditando nesse tipo de “jornalismo” global?

 

 

 

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

2 comentários

    • ALEXANDRE ARAGÃO DE ALBUQUERQUE

      Faz não somente com Moro, mas com Guedes, Dallagnol, Itaú, Vale e tantos outros. Glenn Greenwald está a demonstrar que outro jornalismo é possível. E já começa a fazer escola. Aqueles dois jornalistas deixaram o porta-vez mudo quando perguntaram: “Qual é o crime?”. Vamos lá. O Golpe com suas contradições são uma porta para novas possibilidades.