O desafio da intolerância, por Gilvan Mendes

 

No seu livro clássico ‘Sobre a liberdade’,’ o filósofo John Stuart Mill afirma que ”a luta entre liberdade e autoridade é o aspecto mais conspícuo nas partes da hisria”.  Se visse a conjuntura atual brasileira, o célebre autor utilitarista , talvez , redefiniria essa batalha entre liberdade e intolerância. Em meados de 2015 , o ex-ministro dos governos petistas Guido Mantega foi hostilizado por um grupo raivoso em pleno Hospital Albert Einstein, em São Paulo , onde acompanhava sua mulher em tratamento contra ncer. Na última terça-feira (13), a jornalista Miriam Leitão escreveu em sua coluna do jornal O Globo ter sofrido agressões verbais por parte de delegados e membros do Partido dos Trabalhadores. O ódio  contra quem pensa diferente virou um sentimento comum no Brasil contemporâneo.     

Como chegamos nesse ponto? a resposta tem raízes históricas. O Brasil se estabeleceu à base do  autoritarismo colonizador, que desejou  transformar esta terra em  fonte de extração de riqueza e nada mais , sem desenvolver por aqui os primeiros passos de um modo de vida particular. Daí surge a famigerada definição de Sérgio Buarque de Holanda de que somos ”desterrados em nossa terra”. Sem ideais e metas de realização , fomos nos desenvolvendo sem preocupação com o futuro , herança direta do dominador português , e sem o apego a valores de liberdade e igualdade. Dessa maneira , a legalidade e a tolerância por aqui foram  sempre um lamentável mal-entendido , ainda mais com a polarização exacerbada que vemos nos dias de hoje com as  redes sociais , lugar onde o Muro de Berlim definitivamente ainda não desmoronou e a Guerra fria está mais viva do que nunca.

Usando novamente o velho Stuart Mill , a liberdade de expressão e organização é um fator primordial para o desenvolvimento social. Temos todo o direito de discordar das posições da jornalista Miriam Leitão , mas não podemos desrespeitá-la por causa disso , o mesmo se aplica a Guido Mantega e a todos os cidadãos brasileiros. A não ser que queiramos criar uma tirania social ,  em que um determinado grupo da sociedade dita as regras  que todos devem seguir e os que não seguem a conduta estabelecida sofrem sanções. Casos assim são corriqueiros em ditaduras.

Os resquícios da ditadura militar ainda persistem em nosso país. Durante esse tenebroso período da história recente do Brasil , ser contra o regime instaurado era motivo para tortura e morte. Ao retomar o Estado democrático nossa sociedade se comprometeu em defender na Constituição de 1988 a pluralidade e a liberdade política , sem perseguições e constrangimentos contra quem quer que seja. Quando cometemos atos de intolerância estamos quebrando esse pacto social e as consequências podem ser gravíssimas. Resta torcer que o lado democrático saia vencedor.

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.