Estou lendo sobre o conservadorismo na política. Leio no momento Robert Nisbet, um sociólogo americano que tratou do conservadorismo de Burke de maneira profunda e atraente.
Impossível ler sem fazer relações, estabelecer conexões com a nossa realidade e comparar processos e comportamentos. Vivemos tempos difíceis e a leitura dos clássicos nos dão mais certeza do que está acontecendo.
Os problemas se repetem sob outra roupagem, com outras causas e outros agentes. Nisbet nos diz, logo na introdução, sobre ideologia e a define como sendo “ qualquer conjunto de ideias morais, econômicas, sociais e culturais razoavelmente coerente, possuindo uma relação sólida e óbvia om a política e o poder político; mas especificamente é uma base de poder para possibilitar o triunfo do conjunto de ideias.” Define-a após afirmar que a ideologia juntamente com o liberalismo e o socialismo são as três ideologias mais importantes dos últimos séculos no Ocidente. Seu livro intitulado de O Conservadorismo, foi publicado em 1986 e traz uma análise sobre a obra Reflexões da Revolução em França, escrita em 1790 por Edmund Burke, o pai do conservadorismo.
A leitura desse livro é deliciosa pelo conhecimento que nos traz, ao mesmo tempo que é inquietante pois nos revela ações e pensamentos datados do século XVIII que nos remetem diretamente a fatos, ideias e ações presentes na realidade brasileira. O amor e a paixão por tradições, o medo da igualdade de classes, o pavor à destruição da família são sentimentos utilizados nos nossos dias para justificar ações,
governamentais ou não, que atacam políticas públicas e destroem, de maneira rápida, o pouco que a população brasileira conquistou nos últimos anos.
E o mais preocupante é aquiescência de parte da população à destruição que se inicia. Os brasileiros são conservadores? De onde vem esse conservadorismo? O medo de descer na pirâmide social e a certeza de estar em um andar mais elevado por merecimento faz a chamada classe média se comportar de modo egoísta e, porque não dizer, conservador ao extremo. Burke gostaria de assistir ao que está acontecendo no Brasil. Jeremy Bentham, idem.