No interior do século XIX, quando Paris brilhava sob os lampejos da Revolução Industrial e as ruas se agitavam com a dança dos gasômetros, um poeta emergiu das sombras para deixar sua marca na história da literatura francesa. Seu nome era Stéphane Mallarmé, um mestre da palavra, cuja pena traçou os contornos de um universo poético tão vasto e enigmático quanto os céus estrelados que inspiram seus versos. Mallarmé era homem de paradoxos, envolto em mistérios como os que permeiam suas obras. Seu semblante tranquilo escodia a inquietação de um espírito sempre em busca do sublime, da harmonia absoluta entre som e sentido. Nas páginas de seus poemas, ele desafiava as convenções da linguagem, explorando os limites da expresão humana com uma ousadia que beirva o surrealismo. Sua busca pela perfeição estética o levou a experimentar formas poéticas inovadoras, como o soneto branco e o poema em prosa, rompendo com as estruturas tradicionais para se lançar em direção ao desconhecido. Cada palavra, cada verso, era meticlosamente esculpido como um diamante bruto, lapidado até reluzir em todo o seu esplendor.
Mas, Mallarmé nao era apenas um poeta; era um visionário que exergava além das palavras, vislumbrando um mundo onde a arte transcende as froteiras do pensamento racional. Sua célebre obra ” Um lance de dados jamais abolirá o acaso” é um testemunho dessa visão, onde a linguagem se desfaz em fragmenos de significado, como estrelas dispersas no firmamento, desafiando o leitor a decifrar seus enigmas. Ao longo de sua vida, Mallarmé enfrentou a idiferença do público e a incompreensão dos críticos, mas jamais abandonou sua busca pela verdade poética.
Para ele, a poesia não era apenas uma forma de expressão, mas sim um caminho para a transcedência, uma ponte entre o mundo visível e o invisível, onde a beleza se revela em sua forma mais pura.
Hoje, mais de um século após sua morte, o legado de Stéphane Mallarmé continua a brilhar como uma estrela solitária no firmamento da poesia. Suas palavras ecoam através do tempo, convidando a mergulhar nas profundezas do mistério, onde o sentido se dissipa como fumaça e a beleza resplandece em todo o seu esplendor. E assim, enquanto houver poesia, o clarão poético de Mallarmé continuará a iluminar o horizonte da alma humana, guia e inspiração para todos aqueles que buscam a verdade nas palavras.
Marcos Abreu, é poeta e escritor brasileiro.