O candidato que respeitou a inteligência do eleitor e da eleitora, por Osvaldo Euclides

Este primeiro turno das eleições presidenciais deixa uma marca importante e firme: a participação do candidato Ciro Gomes, do PDT. Foi certamente o único a tratar o eleitor e a eleitora com o devido respeito, ao apresentar um diagnóstico preciso das imensas possibilidades e dos limites do país e oferecer uma proposta refletida, abrangente e consistente de superação desses limites. Apesar de ser tratado desde sempre pela grande imprensa tradicional ora com preconceito, ora com um explícito mau jornalismo, sempre como um adversário a ser a qualquer preço abatido, desacreditado ou provocado, o candidato conseguiu furar o bloqueio e passou à população com rara clareza o seu projeto.

Há outros elementos marcantes na campanha do PDT. Um deles é o fato de que Ciro Gomes não fez concessões no seu discurso à ideia (simpática, mas criminosa) de que a política é uma prática suja e corrupta, e que “os políticos” são os culpados dos problemas do Brasil. Essa mistura de mentira e besteira que se repete do Oiapoque ao Chuí, dia após dia, várias vezes ao dia, só beneficia os interesses inconfessos dos espertos de grande porte e enfraquece a democracia representativa.

Uma outra contribuição relevante do candidato foi a identificação nítida de quem ganha e quem perde com a gestão do país nas mãos desqualificadas e ilegítimas do atual presidente da República e de seu grupo. Perde o Brasil, perdem os trabalhadores e a grande maioria dos empresários brasileiros. Ganham os intermediários do sistema financeiro e pouquíssimas gigantescas empresas, quase todas estrangeiras.

Não vacilou o candidato ao dizer que é preciso recolocar o pedaço do poder judiciário que se excede de volta à sua caixa. Não teve dúvida de criticar diretamente a hiperconcentração do poder de imprensa e do sistema bancário (os dois segmentos empresariais devem ter crises alérgicas só de ouvir o candidato). E não esqueceu de denunciar a farsa do déficit fiscal primário (qualquer economista de verdade sabe que este não é o problema principal do país, face ao oceânico déficit nominal).

O candidato não está no segundo turno, mas ele pode se considerar um vitorioso se seu projeto e sua proposta forem considerados e trazidos ao debate sério, democrático e responsável que talvez seja possível nos próximos 21 dias.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.