Weber, um craque alemão do pensamento político, explicava a devoção e o amor que a autoridade despertava nos homens (e nas mulheres, por decorrência linear).
Aos vínculos de dependência e proteção, expandidos na nossa herança peninsular, associava-se a correspondência de uma sólida contrapartida de lealdade. Aprendemos muito com essa relação primitiva desde os tempos da Colônia e com ela construímos o poder reverencial das oligarquias.
Esse número familiar e de lealdades designadas sobrevive no Brasil sob disfarce moderno. No Ceará, acabamos de enterrar uma oligarquia para celebrar o nascimento de outra. Um embate cruel e dissimulador entre famílias do melhor trato e do círculo de aderentes a elas ligado.
No Brasil, quem não está contra a ordem autoritária de governo que, de tempos em tempos, desperta entre nós, é porque espera e confia ser acolhido no seio das suas benesses protetoras…
Ninguém despreza o Estado-provedor e patrimonialista, na esperança de ser aceito entre os seus protegidos-beneficiários.
Sergio Buarque de Holanda, criador da imagem do brasileiro “cordial”, empenhou-se em desfazer a interpretação que foi dada por alguns sociólogos a essa nominação. A “cordialidade” do brasileiro, segundo cunhara e definira SBH, era, como ele mesmo explicou, o resultado de um caráter autoritário e conflituoso, patrimonialista e belicoso, nos amplos limites dos seus interesses pessoais e familiares. Inútil. guardamos a imagem idílica do brasileiro-bom e fraternal, tal como queremos ser vistos na nossa originalidade tropical desse imenso “País do Carnaval”, que valha a inspiração de Jorge Amado.
Desses valores fez o brasileiro “cordial”, do seu “jeitinho” e da esperteza armas que teriam enorme importância nas relações políticas de poder.
Pelas circunstâncias de uma história mal contada, em quase dois séculos de fluxos e refluxos de propósitos e interesses de uma elite saída de um colonialismo extrativista, implantamos três golpes bem sucedidos [1889, 1937 e 1964] e assistimos a numerosos “putchs”, arengas militares e conspirações políticas em um Estado em constante efervescência entre uma vizinhança andina pouco afeita, como nós, aos desafios da prática democrática.