Há pouco mais de três anos, instalou-se no ambiente de brasileiros e brasileiras um sentimento de crise grave, profunda, dramática. Apesar dos índices formais não indicarem nada especialmente crítico, economistas e jornalistas sugeriam um país “à beira do abismo”. Na confluência da Justiça com a Polícia, sob as bênçãos do Ministério Público (ou de parte dos três) uma espécie de “seriado” sem fim deixava a todos em suspense incontrolável, à espera do próximo evento espetacular, o capítulo seguinte.
Se era golpe ou não era golpe, este debate, anos depois, está superado. Tomou-se o poder, anularam-se os efeitos da eleição. Um vice tomou posse e colocou em prática um programa diverso e inverso ao que foi aprovado nas urnas pelos eleitores. A suprema corte aprovou tudo, e apoiou, isso é hoje evidente. Aliás, a verdade de tudo o que aconteceu está ficando cada vez mais evidente mesmo para os mais, digamos, distraídos, ingênuos e bem intencionados, os sem-noção, mas cheios de convicção.
Voltando no tempo: dizia-se que a Petrobrás era o verdadeiro alvo, dizia-se que, efetivado o golpe, o Pré-sal seria entregue às petroleiras estrangeiras, cada um dos 40 bilhões de barris de petróleo a preço de uma garrafa de coca-cola.
Voltando mais no tempo: dizia-se que o Pré-sal era uma aventura, um desperdício, uma ousadia irresponsável da Petrobrás. Quando foram encontradas as gigantescas reservas, dizia-se que era impossível extrair petróleo nestas condições (sete quilômetros de profundidade, em alto mar). Quando a Petrobrás provou que havia desenvolvido a tecnologia, passou-se a dizer que isso só era viável com o preço do barril do petróleo a oitenta dólares. Ficou provado que mesmo a trinta dólares era viável. Depois, inventaram que a Petrobrás era um mar de lama, uma empresa incapaz e corrupta (na verdade meia dúzia ou mais de gerentes eram corruptos, a corrupção era do lado de fora). Depois, criaram a narrativa de que a empresa estava quebrada, sem condições de pagar suas contas. Tudo “pós-verdade”, tudo “fake news”, tudo “jornalismo de guerra”, tudo “disputa política pelo poder”.
O fato é: a Petrobrás está montada em reservas de petróleo que valem trilhões de dólares. O Brasil criou o sistema de partilha, que destinaria parte dessa monumental riqueza para saúde e educação. Bom para a Petrobrás, bom para o Brasil, bom para os brasileiros.
Outro fato é: o vice que tomou posse instalou na Petrobrás uma diretoria que está leiloando entre petroleiras estrangeiras a riqueza do Pré-sal. Não parece bom para a Petrobrás, não parece bom para o Brasil, não parece bom para os brasileiros.
Mais outro fato: a Petrobrás está sendo fatiada e vendida a preço vil, como se dizia antes do tal golpe ou do tal “não-golpe”.
Mais outro fato: este leilão acontecerá nesta sexta-feira dia 27 de outubro.
Voltando ao primeiro parágrafo. O clima de urgência e emergência criado na política, na economia, na polícia, na justiça e na imprensa evoluiu para um cansaço e uma estranha aceitação dos absurdos e dos crimes, a depender apenas de quem os comete e de como eles são noticiados.
Escolha: verdades que viram mentiras ou mentiras que viram verdades? Vamos mesmo trocar trilhões de dólares por alguns bilhões?