O Brasil pode ter acabado de virar alvo – PARTE 2 – por Osvaldo Euclides

Autogol é o nome que os portugueses usam para se referir ao gol contra, o gol acidental que o jogador faz contra sua equipe. Parece que o Brasil está propositalmente cometendo autogol, um atrás do outro, às vezes em coisas sérias. Exatamente em 07 de junho deste 2019 postamos neste Segunda Opinião um artigo titulado ´O Brasil pode ter acabado de virar alvo´ (link abaixo) e falava de Argentina e especulação com câmbio. Dizia-se que a Argentina estava quebrada, insolvente e mal gerida. E relatava que o presidente brasileiro foi até lá e de impulso propôs a ideia da moeda única Brasil-Argentina. Um absurdo. Pior que isso, era um autogol, um gol contra, mais um tiro no pé.

O Banco Central do Brasil está montado sobre imensas reservas em dólares e não sofre pressão de credores externos, porque conquistou soberania. O país não tem déficit comercial, ao contrário seu comércio internacional faz tempo é superavitário (exporta mais do que importa). Em nenhum momento dos últimos anos deixou de receber investimentos externos anuais acima de sessenta bilhões de dólares. Enfim, não há qualquer ameaça à estabilidade da cotação de câmbio. Só a especulação pode fazer isso. Como? Fazendo compras a termo maciças nos mercados futuros de cotação do dólar, por exemplo, dando o Banco Central sinal verde e tapete vermelho para quem quiser especular numa direção (contra) ou noutra (a favor). Sim, porque o BC brasileiro está sempre atuando numa das pontas desse mercado.

A anunciadíssima crise estourou na Argentina e aqui o dólar já rompeu a barreira de quatro reais. E o glorioso Banco Central age e reage como se tivesse sido apanhado de surpresa. E atua como não fazia desde que teve de dar respostas à crise mundial de 2008: vende reservas, enfraquece, chancela a especulação.

O presidente Jair Bolsonaro continua vinculando o Brasil à Argentina. O ministro Paulo Guedes disse em 2018 que venderia as reservas se a cotação chegasse a cinco reais. O Banco Central não age de forma preventiva para impor limites aos mercados especulativos. E parece não ter autoridade para ancorar expectativas de estabilidade.

Ainda é tempo de agir para evitar que o Brasil perca as reservas que garantem soberania, a maior conquista do país em muito tempo.

Em economia e em política, costuma-se dizer que em matéria de câmbio é legítimo mentir no interesse do país. E é verdade. Por outro lado não há licença para fazer ou dizer besteira. Paga-se muito caro.

O Brasil pode ter acabado de virar alvo, por Osvaldo Euclides

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.