Somos pais das mesmas traças. Dos cupins, dizia Pedro Paulo Montenegro tratar-se de um gênero de comedores, altamente especializado. Segundo ele, esses diabretes tinham acentuada preferência pelos melhores autores. Dos livros revelavam notória afeição pelas encadernações bem costuradas.
A fagacitose revelada por esses protozoários corresponde, segundo os entendidos desses organismos anatomicamente primários e deletérios, a uma manifestação eletiva. Nos cupins ela se mostra com uma enorme capacidade seletiva. Na literatura, nela se processam as suas escolhas, tragicamente — alimentam-se do melhor repasto.
Aconteceu-lhe ter descoberto, certa manhã, durante as suas abluções intelectuais de hábito, um ataque insuspeitado, desferido por essas térmitas vorazes às obras completas de Menendez-Pelayo, um dos clássicos da teoria literária espanhola.
Passaram em manada silenciosa por baixo de muitos autores e distintos imortais de muitas academias, por eles ignorados por imposição de um aguçado senso crítico e estético. O pior dos cupins é a sua indiferença pela mediocridade. O que pode ser celebrado, no entanto, como um gosto apurado e exigente para as suas escolhas.
A crítica literária, para Pedro Paulo, era uma atividade intelectual criada pelos cupins. Esses críticos severos devoravam, entretanto, as melhores páginas e ignoravam o resto…