O alvo está errado, por Danilo Ramalho

A quem interessa a destruição da imagem da democracia? Sim, por que é isso que vem ocorrendo, silenciosamente, nas entrelinhas do que se diz e do que se escreve na mídia brasileira. A coisa é muito simples de entender, porém, nem tão simples de explicar devido ao profundo enraizamento que originou o que vivemos hoje. Mas, vamos à parte mais fácil: o alvo está errado. Os merecedores dos golpes são os políticos e não a política e muito menos o congresso e o que ele representa para a democracia de qualquer país livre.

O que a população precisa e deve saber é que corruptos são aqueles eleitos pelos votos desta mesma população. Que o problema tem nome e número de CPF, que é uma pessoa física e que se colocou à disposição para ser eleito ou não, na última eleição. O problema está na moral desforme dos legisladores e executivos públicos Todos aqueles que perecem diante das tentações de usar mal o dinheiro da nação devem pagar. Por ser a parte fácil desta história nossa imprensa faz muito bem o que lhe cabe, qual seja, investigar e tornar público como forma de ir, colaborativamente – outro traço de democracia – ajudando no amadurecimento da sociedade e de seus eleitores. E a parte difícil? Municiar o país com críticas e ataques – merecidos – é apenas metade do que deve fazer o jornalismo, por correr o risco de estar, com uma mão acendendo o lado mais crítico e exigente de nosso povo e, com a outra mão, puxando a luz da tomada mantendo todos nas trevas da ignorância cidadã. É ignorância pensar a sociedade sem fazer política e sem instituições fortes.

Enquanto se afirma a verdade dos fatos (sistema político totalmente corroído por dentro e por fora) em manchetes diárias em todos os espaços possíveis para isso, trazendo o debate para filas e botequins (uma mudança comportamental maravilhosa em nossa sociedade) deixa-se de lado uma justa e vital ressalva: apesar de tudo que aí está, o congresso e a política como pensamento e participação estão isentos. São instituições que seguem como pilares da democracia e da participação popular. Não se deve atacar o legislativo como se ataca os envolvidos na lava jato e muito menos comparar a ação do homem político (todos nós o somos) com os partidos e suas legendas carcomidas pelas reações frouxas de seus líderes sempre seduzidos pelo fisiologismo predador.

A imprensa deve também ajudar a separar, na vida democrática do brasileiro, o lixo fétido, poluidor e corrosivo de partidos e seus filiados da parte dos resíduos prontos a serem reutilizados, reestudados e até reciclados para um futuro mais nobre. Não coloquemos tudo na mesma lata de lixo.

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