Notícias de Meu Pai – Zito Lobo

  Zito Lobo é pseudônimo pelo qual se tornou conhecido, em Lavras da Mangabeira (CE), José Zito de Macedo, nascido naquele município, aos 29 de novembro de 1922, e falecido em Fortaleza, aos 24 de março de 1987.

  Recolhido na simplicidade da sua expressão discreta e cativante, esse amante de suas raízes cearenses é autor de um livro de poemas que atesta o seu amor à poesia e à cultura da sua região.

  Mesmo acompanhando a sua dedicação à literatura, não me acorreu a ideia de que, no final dos seus dias, a sua criação de poeta estivesse praticamente pronta para o prelo, mas ele sabia o significado da sua produção.

  Dessa circunstância é que nasceu a edição de Trovas e Poemas (Fortaleza: Oficina, 1990; 2ª edição: Fortaleza: Edições Poetaria, 2011), volume no qual reuni os seus poemas produzidos após a morte da minha mãe, Maria Eliete de Macedo, aos 10 de outubro de 1975. 

  Da sua emoção de poeta ele não se furtou de falar ao silêncio de sua escritura, tecendo trovas e sonetos recheados de recordações; e poemas que despertaram a atenção de Joaryvar Macedo (de quem era irmão unilateral) e José Alcides Pinto, que escreveram sobre a sua obra literária.

  Enquanto poeta, Zito Lobo soube revestir os seus versos de fino gosto popular, valendo-se da trova e do repente para denunciar os contrastes do nosso esquecido sertão, seguindo, nesse passo, a influência maior do meu avô, o legendário poeta Lobo Manso.

  Vivendo a epopeia dos que buscam a Verdade e a Justiça, é certo que seu nome remarca as tradições de sua cidade natal, onde ostentou exemplo de vida fincado na participação e na realização do social.

  Durante a infância e juventude, residiu na cidade de Lavras, onde fez os seus estudos primários no tradicional Grupo Escolar, sendo depois vitorioso no exame de admissão no Ginásio do Crato, aí desistindo da sua formação escolar. 

  No Sítio Calabaço, viveu da pecuária e da agricultura, mudando-se novamente para Lavras, em 1958, onde desenvolveu atividades no Sítio Cajueiro, que adquirira, por compra, do seu primo e cunhado, Vicente Favela de Macedo.

  Colocando-se ao lado das vanguardas e iniciativas da cidade de Lavras, seria ele, naquele município, um dos fundadores do Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos, de cujo núcleo regional foi Presidente.

  Ainda no Município de Lavras, foi um dos criadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, e instituidor, na gestão em que foi Tesoureiro desse Sindicato, da Cooperativa dos Trabalhadores Rurais de Lavras da Mangabeira, que igualmente dirigiu. 

   Em 1966, participou da fundação do diretório municipal do MDB, ao lado de homens de determinação e de coragem, tais como João Guedes de Araújo, Jaime Lobo de Macedo e Otoni Lopes de Oliveira.

  E, ao abrigo dessa vivência, teve o seu nome cogitado ao cargo de Prefeito, o mesmo ocorrendo em 1976, quando o industrial João Ludgero Sobreira o quis transformar em chefe da edilidade. De ambos os encargos ele soube se eximir com elegância, afirmando não possuir interesse pelas coisas do poder.

          Relações de estima e afetividade foram valores que sempre difundiu entre os seus. A disposição de servir à causa social, marca, igualmente, a sua trajetória, ligando-se o seu nome à prática de uma liderança carismática e católica que, na sua terra de berço, exerceu como poucos cidadãos. 

         Mudando-se para Fortaleza, em 1975, passou a residir no Bairro da Piedade, onde foi Cooperador Salesiano na Paróquia da Piedade, ali integrando as associações do Sagrado Coração e de Nossa Senhora Auxiliadora, e exercendo funções de direção junto à Associação dos Merceeiros do Ceara e ao Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos – núcleo regional da Piedade. 

   Filho de Maria de Aquino Furtado e de Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso), uma das legendas da poesia popular do Ceará, José Zito de Macedo (Zito Lobo), para o meu orgulho, é hoje nome de rua em sua cidade natal. 

   Também em Fortaleza, tornou-se nome de rua, por proposta do vereador Augusto Gonçalves, não se sabendo se a edilidade concretizou o decreto da Câmara Municipal.

   Ao ensejo da criação da Academia Lavrense de Letras, o poeta Linhares Filho foi um dos primeiros a indicar o seu nome para Patrono de uma das Cadeiras, gerando, de plano, a concordância de todos os presentes.

  Honra-me, de forma profunda e recompensadora, o fato de ser filho desse denso e memorável Zito Lobo, que neste ano de 2012 completa os seus noventa anos. 

  A sua retidão, a sua leveza de espírito e o seu desejo de servir ao próximo e de amar à causa de Deus e da Igreja constituem parte do que mais admiro na sua formação.

         Eu sempre o amei e venerei da forma mais sentida, e da forma mais sagrada e dolorosa daquilo que faz parte de mim, e que me ensina a ser, a cada instante, um servo fiel do seu amor, bastando-me o seu exemplo como modelo de amparo e proteção para todos nós.

   

                                                                                                                     Fortaleza, novembro de 2012.

 

Dimas Macedo

Poeta, jurista e crítico literário. Professor da UFC.

Mais do autor

Dimas Macedo

Poeta, jurista e crítico literário. Professor da UFC.