NOSSA AGRADÁVEL RELAÇÃO COM FAKE NEWS, por Danilo Ramalho

O que nos faz acreditar em fake news? O nosso cérebro, ou melhor, a forma em que pensamos, nossa mentalidade, ou ainda, como se fala no mundo dos negócios: nosso mindset.

A mente procura sempre algo (informação, p. ex.) que ajude a confirmar a nossa visão do mundo. Eis uma explicação possível para entender como tantas pessoas intelectualmente ativas vivam em realidades paralelas, no Brasil de hoje. Quando nos deparamos com uma informação que incomoda a visão de mundo que nós temos, isso nos traz grande desconforto. Aí nosso cérebro reage, rejeitando a tal informação nova, simplesmente para nos poupar, para nos manter na zona de conforto. É neste exato momento que somos tentados a distorcer a realidade, mesmo que o que nos foi apresentado sejam fatos verdadeiros.

A verdade tem o poder de nos causar incômodo: a verdade fere, no início; só depois é que consola, como diz o adágio. Então, a tendência é acreditar no que é confortável para nossa mente. Sobrevivência pura! É fato, daí porque é corajoso quem aceita a verdade, mesmo que esta esteja diametralmente oposta à suas crenças. Uma virtude, melhor dizendo. Realidade para poucos, hoje em dia, no relativismo em que vivemos.

A fake news, então, é aceita e – pior! – compartilhada quando a informação encontrada ou recebida está plenamente ou em parte, sintonizada com nossa visão das coisas. Uma análise mais paciente e detalhada, no entanto, mostraria o erro – perdoe a redundância – da fake news e nosso erro por dar atenção a ela, apenas por nos agradar mais que a verdade. Nossa mente, neste momento, acaba nos traindo e isso vai sendo passado a diante. Traição compartilhada.

É importante também lembrar que, quando compartilhamos, estamos consciente ou inconscientemente buscando vantagens sociais: 1) destaque entre nossos pares; 2) liderança; 3) reconhecimento ou fama; ou simplesmente 4) curtidas/likes. Algo próximo do que chamam de metaverdade: boatos sendo mais relevantes que as verdades. Na imprensa, boatos sempre deram mais audiência que as verdades. A perniciosidade é maior quando tudo isso se dá para manipulação política, p. exemplo, como vimos nas eleições deste ano.

É quase que agradar ao nosso cérebro se deixar levar pelas fake news, um agrado perigoso e falso (!) gerador de consequências numa sociedade que não tem tempo para checar fontes, refletir e ponderar, a começar pela própria imprensa.

Danilo Ramalho

Jornalista, Consultor e Professor na Academia da Palavra

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