[NO NAME]

Sou sim um pecador,
Daqueles mais orgulhosos
Que simplesmente conscientes:
Não é o perdão o que eu procuro,
Mas aquela redenção mais radical
Que leva ao pecado o poeta e o santo.
Não me basta que um sacerdote instituído
Saiba já o que é bom e melhor pra mim:
Eu busco o espelho do irmão desesperado
Que não sabe o que quer e não sabe o que é,
A gente que não cabe no próprio nome
E se angustia com o que dizem os documentos;
As únicas pessoas sinceras são ainda as crianças,
Os meio bêbados, os loucos em crise de lucidez,
Aqueles que gaguejam porque não têm palavras.
Os demais quem dera que ao menos mentissem seus desejos;
Mas a televisão tem um repertório muito limitado;
Nossos velhos pais mudam de canal sem saber o que procuram;
As novas televisões de agora, pudoradas, já não têm ruídos de estática,
Os ruídos de estática que trariam os ecos da primeira explosão,
Que é mais ou menos o que buscam nossos velhos pais diante da televisão,
Uma última transmissão de Deus. Pobre gente tão carente de verdade,
Tão pouco criativa que nem cria as próprias ilusões.

Airton Uchoa

Escritor, leitor e sobrevivente.