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Namorados para sempre: E o amor que não se idealiza

Namorados para sempre (Blue Valentine, 2010) é um filme sobre busca. Uma procura que vem não da necessidade de se encontrar algo em algum lugar, mas da urgência que duas pessoas venham a ter em reencontrar o brilho de um amor desgastado pelo tempo. Esse anseio, portanto, será um dos grandes desafios da família (Novayorquina) Pereira.

Partindo no presente, o longa dá luz ao cotidiano de Dean (Ryan Gosling), Cindy (Michelle Williams) e a pequena Frankie (Faith Wladyka) Pereira, onde juntos lutam para superar perdas que flutuam em diferentes extremos: da morte acidental de um animal de estimação ao afeto que vai se esvaindo ante a força incontrolável do dia-a-dia e do passado. Essa atmosfera opressora e pesada é o que dá a tônica desse brilhante filme de Derek Cianfrance.

Em seu segundo longa-metragem, o diretor norte-americano nos apresenta sua visão sobre o casamento como uma instituição ainda imersa num universo de contradições, frutos muitas vezes de acasos desafortunados e decisões que se tomam mas que lamentavelmente não venham a suportar à pressão da vida contemporânea. Vidas dque se dividem pelo próprio amor ou daquilo o que dele sobrou.

A partir desse modelo constituído de um núcleo pai-mãe-filha, o longa nos dá uma mostra dessa família que não é apenas Novayorquina, mas universal. E se Dean conhece Cindy durante uma fase onde ambos decidem juntos iniciar um relacionamento firme, a vinda da filhinha os coloca no lugar onde o pragmatismo os diz: o próximo passo de vocês será, agora, o mais importante. E quantos casais tiveram e têm de dar essa passo no mundo?

E como tantos ao redor do globo, nosso par tem na culpa pelas posições assumidas mais um grande desafio a enfrentar caso o equilíbrio da família ainda tenha possibilidade de ser reestabelecido. Por isso, Cianfrance nos faz acompanha-los em meio ao seu presente (ressentido/desgastado) e o passado (lírico/jovial), numa viagem por meio de flashbacks que nos coloca como principais observadores do porquê dessa família ter chegado ao ponto de destruição em que a obra aponta.

Assim, passeamos pelo tempo e espaço caminhando juntos com os “Pereira” observando-os em suas tentativas de recomeço e em suas derrotas para si mesmos quando a impossibilidade de se viver juntos parece ser mais forte que qualquer outro sentimento. Logo, não é por estarmos tão próximos que o diretor nos impõe a visão ali pautada. De modo algum.

E se Dean e Cindy conseguirão resolver ou não as questões que fragilizam o seu matrimônio, não temos como saber. Eles tentam, claro. E essa atitude parte usualmente de Dean. Cindy se torna cada vez mais impenetrável em meio ao seu pragmatismo sólido. Mas como eles tentam reverter isso? Uma noite a sós num quarto de motel futurista pode ser alternativa. Dean conclama: “Vamos sair daqui meu bem. Precisamos sair daqui!”.

É esse tom de “apelo” que torna o longa tão sincero em sua proposta. Cianfrance não busca nos convencer a nada. Na vida dessa família, tudo está posto e a maneira como esses personagens “explodem” no último ato nos dá a fortuita experiência de montarmos por meio de nossa interpretação o final mais conveniente para essa fascinante estória de amor e sofrimento, de alegria e de tristeza. A única pergunta que ele nos faz é: você está preparado?

Namorados para sempre recebeu esse título no Brasil e pode ser por essa mesma razão que o filme acabe positivamente atraindo os espectadores que na ideia de assistirem uma estória de amor nos moldes de Hollywood se deparam com uma espécie de “antifilme”, onde o amor não é apresentado de maneira idealizada e distante, mas sim de forma visceral e muito franca. Esses espectadores, por isso mesmo, não terão, certamente, o mesmo olhar depois da experiência de ver esse filme.

É a experiência fílmica que transforma o olhar, que agrada pelo o que oculta e revela no meio do percurso. É o cinema que nos agarra pelo tom descompromissado impresso numa tradução de um título original. Não é um filme sobre namorados, noivos e casados. E ao mesmo tempo é tudo isso o que ele nega ao longo de seus 112 minutos. É o filme de amor que não inventa o amor. Antes, abre brechas perguntando o que ele quer vir a ser. Minha recomendação: um filme obrigatório.

FICHA TÉCNICA

Título Original: Blue Valentine
Gênero: Drama
Tempo de duração: 112 minutos
Ano de lançamento: (EUA): 2010
Direção: Derek Cianfrance

Daniel Araújo

Crítico de Cinema, Realizador Audiovisual, e Jornalista.

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Crítico de Cinema, Realizador Audiovisual, e Jornalista.