Sons estranhos e constantes vêm da minha barriga, é a danada roncando de fome. Hora do almoço, ela trata de me avisar. Eu não sei vocês, mas eu tomo o café da manhã e já fico pensando no cardápio da refeição seguinte – coisa de mãe? Ou será metabolismo acelerado? Só sei que a hora do almoço pra mim é sagrada, pois nem me pagando eu troco uma boa comida de panela, como diz o cearense, por shake da Herbalife e lanche cult bacaninha, pra ser almoço tem que ter arroz, feijão, farofa e o que mais a criatividade mandar.
Lembro que quando eu morava na casa da minha mãe a hora do almoço era o momento da família ficar cara a cara pra colocar os papos em dia também. Sim, a gente não só conversava na hora de comer, como ria em tempo de se entalar, e olha que já aconteceram muitos engasgos, e às vezes até brigava quando o assunto era polêmico demais, porque só em comercial a hora da refeição é um momento romântico, na vida real é bagunçada que só.
Eu sempre gostei muito da comida da minha mãe, mas nos dias em que não dava tempo dela cozinhar, era a velha e boa marmita que salvava o bucho da fome, e pode parecer besteira de criança, mas eu me achava super independente quando eu ia sozinha na marmitaria escolher o prato do dia. Lembro de ficar olhando todas aquelas opções e pensando o que eu, uma menina de 12 anos, ia colocar na mesa lá de casa. O mais engraçado é que, mesmo com a toda variedade, eu acabava escolhendo sempre a mesma coisa.
Se alguém me chama pra almoçar, eu já me acho intima da pessoa. Sim, porque se cozinhar pros de casa já é uma trabalheira, quanto mais pra visita que a gente inventa mil firulas de receitas pra agradar. E quando a família faz aquele junta panelas no domingo, a casa se enche do cheiro dos temperos, das crianças correndo ao redor da mesa, dos primos relembrando as aventuras vividas juntos, um falando alto por cima do outro, “eita coisa boa”, vale até a pena a “ruma” de louça que fica suja depois.