Faz um tempo que um sujeito bigodudo na capa de um CD na casa de um amigo me chamou atenção. Estava garimpando os discos do pai dele – todos empilhados numa torre descuidada e empoeirada (para o desespero do meu TOC e de tanto cuidado com meus disquinhos…) – quando me deparei com um álbum chamado Ethnicity, meio gasto e com cara de quem não via a luz do dia (e de um leitor laser de um sistema de som) há tempos. Ao ver a foto da capa, só pensei em “quem raio é esse Belchior com pose de latin lover? Canta? Toca? É brega?”.
Deixa que aquele nome não me era muito estranho: Yanni. E como não tive a cara de pau de pedir o CD emprestado ao pai do meu amigo, fiquei com aquilo na cabeça. Semanas depois, encontro o tal bigodudo de novo, dessa vez na capa de outro CD nas Lojas Americanas. E por um preço até bacana! Decidi vencer o preconceito daquele moustache safado da foto – sem falar em aproveitar a oferta, lógico – e acabei levando um tal Tribute. Na capa – por trás da foto do el flacucho bigodón – o Taj Mahal e um dos portões da Cidade Proibida (na China) fecham a composição da imagem majestosamente e em fortes tons de um laranja avermelhado. Comprei, levei pra casa e comecei a audição. Não posso negar que foi paixão à primeira vista pela música desse magrelo do buço peludo.
A primeira faixa, Deliverance, traz um punhado de sons étnicos, escalas orientais, flautas e muitos violinos. Creio que o máximo que eu havia ouvido de parecido até aquela época da vida foi alguma coisa da Enya (tão conhecida no estilo new age). O álbum foi prosseguindo com instrumentais de piano e violino cada vez mais bonitos, até que chega a terceira canção, Renegade, trazendo uma melodia altamente positiva, contagiante e “pra cima” que me conquistou de vez. Impossível não imaginar (apesar de nunca ter ido até lá) uma paisagem grega, com campos verdejantes, templos imemoriais e uma grande sensação de liberdade ao ouvir essa canção. O restante do álbum em si é realmente um belo tributo à música mundial, bebendo demais dos ritmos, escalas e instrumentos orientais. Traz momentos muito bonitos como Dance With A Stranger, Southern Exposure e lindas flautas em Nightingale. Mas o que me chamou atenção e me fez admirar mais o Yanni foi o fato de ter descoberto, pouco tempo depois, que aquela imagem da capa não era à toa: o álbum todo foi gravado na Cidade Proibida (China) e no Taj Mahal (Índia). Fiquei besta.
De fato, o grande triunfo deste músico grego – nascido em 1954 na segunda maior cidade da península do Peloponeso, Kalamata – é justamente o fato de realizar grandes concertos a céu aberto e sempre em grandes monumentos da humanidade. Tempos depois adquiri em DVD o concerto de Tribute, que impressiona pela majestosa produção e um time impecável de talentosos músicos – aliás, outro triunfo deste grego maroto: montar sempre uma orquestra com membros altamente virtuosos e de várias nacionalidades. Entre algumas performances memoráveis em qualquer um de seus shows, vale a pena você assistir seus parceiros Karen Briggs (violino), Pedro Eustache (saxofone e flautas), Sayaka Katsuki (violino), Charlie Adams (seu fiel escudeiro na bateria) e Ming Freeman (teclado) dando um show à parte, muitas vezes sendo os protagonistas em cada canção. A cada concerto todos eles fizeram solos e participações de tirar o fôlego! Clique aqui e veja o duelo entre Sayaka e Pedro na música Playtime que fazem violino e saxofone praticamente “conversarem”. Tente não se arrepiar.
E como se tocar em dois grandes monumentos do velho Oriente não fosse o bastante, nosso amigo também gravou (anos antes) o belíssimo Yanni Live at the Acropolis, concerto realizado no Odeão de Herodes Ático, um histórico anfiteatro justo aos pés do imponente Templo de Atena, o Parthenon, na capital grega. Um concerto simplesmente perfeito, cheio de emoção e também uma justa homenagem às belezas de sua mítica terra natal. O destaque vai para as sensacionais faixas Santorini, One Man’s Dream, Keys To Imagination, a inspiradíssima The Rain Must Fall e Felitsa – composta para sua já falecida mãe, Felitsa, presente à época na plateia e a quem Yanni faz questão de dedicar um emocionado discurso.
Se você pensa que acabou, nosso Belchior olímpico sempre pode surpreender mais: já tocou dentro do Kremlin (Rússia) e em 2012, lançou Yanni Live at El Morro gravado aos pés do monumental Castillo de San Felipe del Morro em Porto Rico. E pra fechar com a devida suntuosidade, sua empreitada mais recente foi gravar “simplesmente” nas Pirâmides do Egito: Yanni – The Dream Concert ainda não foi lançado no mercado, mas já promete ser mais um espetáculo audiovisual para o qual já estou juntando os trocados quando for comprar o blu-ray e o CD.
Sem dúvida, a música de Yanni é inspiradora, bem como sua história: aprendeu a tocar piano sozinho pois cresceu cercado de música clássica (sua mãe era cantora e seu pai violonista). Porém, seu talento era para a natação – tanto que chegou a vencer competições importantes na Grécia, quando adolescente. Mas seu destino era outro: mudou-se, aos 18 anos, para os EUA a fim de cursar Psicologia em Minnesota. No entanto, jamais chegou a exercer a profissão quando terminou o curso: a paixão e o devir pela música o chamaram e sua primeira grande aventura foi numa banda de rock progressivo local, Chameleon. Anos depois, mudou-se para Los Angeles e se firmou como um respeitado músico de estúdio, compositor de jingles e produtor. Lançou seu primeiro álbum solo, Keys To Imagination, em 1986, lançando-o ao estrelato mundial.
Algumas curiosidades: Yanni já veio ao Brasil por duas vezes, em 2010 e 2012, fazendo concertos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Brasília. Um outro fato interessante é que Yanni não sabe ler ou escrever música: desde cedo, inventou um sistema muito particular de composição, que utiliza até hoje em suas obras. Um outro fato interessante foi a gravação de Yanni Voices, um álbum com versões inéditas de seus instrumentais, mas com a novidade de acrescentar vozes a todas elas. À época, ele reuniu um time impecável de cantores e que tinha até mesmo Nathan Pacheco, um brasileiro!
Sempre gostei de música instrumental, mas jamais havia ouvido algo parecido dotado de tanto sentimento, ecletismo e suntuosidade. Foi culpa deste grego metido a Don Juan que passei a gostar muito de ouvir piano (até mesmo já me arrisquei a aprender teclado sozinho – e isso inclui um show de uma antiga banda onde toquei teclado cujo vídeo está no YouTube, mas que jamais compartilharei aqui!). O tal estilo new age que ele representou tão bem realmente marcou e ainda marca época, pois a cada novo lançamento ele não deixa a bola cair: a mesma entrega, o mesmo cuidado em sempre desenvolver performances estonteantes e a interpretação de cair o queixo – tanto dele quanto de sua sempre renovada orquestra – são marcas registradas de sua tão frutífera música.
Yanni não é vocalista, mas “canta com o piano” e transpira uma paixão sincera pela música do mundo todo, entregando devoção, paixão, etnicidade, múltiplas culturas e talento para – realmente – todo mundo. Nada mal para quem queria ser nadador e psicólogo – para nossa sorte, ainda bem que ele desistiu.
Álbuns recomendados:
Tribute (1997)
Live at the Acropolis (1994)
If I Could Tell You (2000)
Yanni Live! The Concert Event (2006)
In The Mirror (1997)
Dare To Dream (1992)
Yanni Voices (2009)
Sensuous Chill (2015).
Sérgio Costa
|AutorNossa, muitíssimo obrigado Suely!!!! Yanni sempre me inspirou e me inspira até hoje. Fique ligada, pois neste ano vai ter muito mais textos sobre música por aqui. Grato e um excelente 2021 pra você!
SUELY SANTOS RAMOS
Amei o texto. Amei tanto que coloquei no face, pois disse tudo o que não consigo dizer sovre Yanni, só consigo sentir. Obrigada!
ANA MARGARIDA BARBOSA SANTOS -
Sergio Costa, somente hoje tive o prazer de ler seu texto sobre esse músico maravilhoso. De muita clareza e sensibilidade suas palavras expressam exatamente o que eu sinto. Fui “apresentada” a Yanni de forma surpreendente. Meu marido chegou tarde da noite em casa. com cheiro de cerveja”s”, mais como sempre muito animado, disse que onde estava bebendo, lembrou-se de mim. Imagina, no local onde degustava cerveja com os amigos, o dono do bar brindava os clientes com vídeos de Yanni. E aí meu marido disse que eu iria gostar da música, pediu e o trouxe o DVD pra mim. Recebi Tribute de madrugada e assistir e ouvi tudo até o fim. Foi fantástico. Obrigada por me trazer de volta essa doce memória.
Diego Domingues
Amei o texto! Raramente conheço quem aprecie as músicas do Yanni ou as músicas da Enya ( ouço todos os dias praticamente) ele é realmente espetacular. Suas músicas tocam profundamente nossa alma, é transcendental. Sem contar os músicos que compõem o time, são dotados de um carisma tão contagiante, que eles realmente fazem você querer aprender um instrumento . Adoraria um dia assistir a um concerto dele. Obrigado pelo texto amigo!
Sérgio Costa
|AutorValeu, Diego! Também espero um dia ter o prazer de ver o Yanni ao vivo. Abraço, e volte sempre que tem sempre texto novo :)
Cheila Dias Dos Santos
O que mais posso dizer desse ser apaixonante que é o Yanni?? Em poucas linhas, você Sérgio , fez um excelente resumo da obra do Yanni. Estive em dois shows dele no Brasil (Ibirapuera/SP e Vivo Rio/RJ) e pude comprovar o carisma dele com o seu público sempre deixando uma linda mensagem através das suas composições ou das belas e pontuais palavras dirigidas aos fãs entre a apresentação de uma música e outra!!! Também sou afiliada do YannInsideBrazil e fico muito feliz ao ver a obra do Yanni sendo divulgada. A acrescentar: por reunir músicos do mundo todo a sua Orquestra é conhecida como Nações Unidas!! Um forte abraço!
Cheila Dias Dos Santos
O que mais posso dizer desse ser apaixonante que é o Yanni?? Em poucas linhas, você Sérgio , fez um excelente resumo da obra do Yanni. Estive em dois shows dele no Brasil (Ibirapuera/SP e Vivo Rio/RJ) e pude comprovar o carisma dele com o seu público sempre deixando uma linda mensagem através das suas composições ou das belas e pontuais palavras dirigidas aos fãs entre a apresentação de uma música e outra!!! A acrescentar: por reunir músicos do mundo todo a sua Orquestra é conhecida como Nações Unidas!! Um forte abraço!
Sérgio Costa
|AutorObrigado pelos elogios, Cheila! Não sabia desse detalhe da orquestra dele. Mas realmente, merecem todo o título e todas as honras. :)
Evanilde Gonçalves Silva
Yanni… simplesmente um grande actor, neste lindo palco da vida. Brinda-nos com o sons suaves, e músicas que cantam por si, melodias de encantar. Cantam e contam histórias de amor e nos relatam de como podemos a levar a vida. Muito obrigado Sérgio Costa pelo enredo no qual contas um pouco da vida deste homem magnifico. E muito obrigado a um grande amigo Dazemi Lukedi, por me apresentar a melodia da música cantada por si mesma (YANNI).
Maria de Medeiros
Parabéns Sérgio Costa, pelo bom gosto e belo comentário. Amo a música do Yanni, sua performance e seu belo bigode (rsrsrsrs). Estendo minha admiração para os músicos incríveis que o acompanham, e se me permite, quero acrescentar o extraordinário Samvel Yervinyan. Apaixonante!
Sérgio Costa
|AutorOlá Maria! Fico muito feliz com seu comentário e elogios. Agradeço demais pela leitura, e realmente o Yanni é sensacional, não é? :) Seus músicos são um show à parte. Obrigado e volte sempre, que em breve tem mais texto novo.
Marcia Balreira de Souza
Parabéns, Sérgio Costa, pelo Comentário e principalmente pelo bom gosto musical. Yanni é, de fato, um fenômeno e merece ter seu trabalho divulgado cada vez mais! (de uma fã de sua música e de seu moustache! ;-) )
Sérgio Costa
|AutorCom certeza, Marcia. E que o bigodudo venha logo ao Brasil pra nos brindar com sua música. Obrigado pela leitura e pelo comentário! Volte sempre que vai ter muito mais texto novo este ano. ;)
Alba Mendes
O melhor review sobre Yanni que já li no Brasil!!
Será compartilhado com certeza com todos os fãs !!
Somente uma correção, Yanni esteve no Brasil também em 2014.
Parabéns e obrigada,
http://www.yanninsidebrazil.com.br
Afiliado do Yanni no Brazil desde 2011
Sérgio Costa
|AutorObrigado Alba! Fico realmente feliz que tenha gostado.
E claro, será um prazer ter este meu texto no portal Yanni Brazil!