Nesta semana, lemos mais uma pérola vinda do Senhor Presidente da República: que a garotada se interesse menos por política. É um desejo que seria cômico se não fosse grotesco pelo que propõe. Enquanto propomos aos alunos, filhos, colegas de trabalho, aos que nos cercam, mais reflexão, mais ação fundada em pensar, ouvimos esse convite desprovido de qualquer tipo de senso.
Pedir para não pensar política ou fazer política é pedir para não agir dentro da comunidade, não reivindicar ações da prefeitura ou do Estado ou da União, é não ser cidadão no seu mais primitivo ato. É não pensar para votar, é votar com a maioria, é ser classificado e aceitar o predicativo povo-massa, um conceito totalitário. É voltar para os currais eleitorais de outrora e eleger coronéis, é trocar o voto por um par de chinelos ou uma dentadura.
Pedir para não se interessar por política é voltar para caverna sem ter chegado a ver tudo o que estava fora, para lembrar de Platão. Conseguimos soltar as correntes e ter coragem para sair da caverna e explorar o desconhecido; começamos a ver a realidade em um país jovem e com capacidade de desenvolvimento reflexivo: a miséria foi reduzida e alguns de nós acreditávamos em dias melhores. Mesmo sem ver tudo que tinha pra ver voltamos para avisar os que tinham ficado na caverna e já havia um lider entre eles, convenceu-os de que a realidade era outra. Convenceu-os a ficar presos.
Ficamos todos presos a ideias e conceitos ultrapassados. Métodos antigos e opiniões retrógradas agora fazem parte do noticiário nacional e os que tiveram a oportunidade de ver a luz, simplesmente não acreditam no que está acontecendo. Foram vencidos por uma imitação de legitimidade e os positivistas até dizem que o direito não foi violado; as normas, exercem o seu papel e legitimam as ações mais absurdas.
Só nos resta pensar por nós e pelos outros. Refletir, agir, questionar, refletir novamente. Permitir o espanto de que tanto fala Hannah Arendt ao analisar os filósofos em a promessa da política, por que o espanto e a admiração diante das coisas nos faz pensar como poderia ser de outra forma. Espantar-se diante do que parece óbvio ou apenas comum é o primeiro passo para pensar a diferença.