Matadores de velhinhas

A publicidade é um dos princípios da administração pública. Está escrito na Constituição de 1988 e cabe a cada homem público respeitar e atender a este princípio. Ele obriga o governante, mesmo e principalmente aquele que tem a legitimidade do voto, a prestar contas ao cidadão nascido neste país. Nossos homens públicos sabem disso, usam isso nos seus discursos, mas não praticam de fato a transparência de seus atos e dos dinheiros que usam e manipulam. Fazem propaganda de seus governos, mas sempre sob a forma de autopromoção, divulgando suas obras e méritos. Jamais esclarecem ou prestam contas.

As contas da Previdência Social são um exemplo gritante. Presidentes da República e Ministros nunca se dirigiram ao cidadão para mostrar o que acontece com a conta mais alta da arrecadação e com a conta mais alta do gasto oficial. Supõem que o cidadão não se interessa, pressupõem que ele é incapaz de compreender, assumem que o assunto é chato, ou seja, tratam o cidadão como uma criança ou como um tolo irresponsável. Quando muito, dão um ou outro número da arrecadação ou dos gastos, claro, sempre apontando para um déficit que ninguém, jamais, explica. O pouco que divulgam, fazem-no de forma esparsa, dispersa, descontextualizada, confusa. Na verdade, o assunto é delicado, sensível, interessa ao cidadão e a sua família, é decisivo quanto à qualidade de vida, tem implicações econômicas e políticas estratégicas. Em outras palavras, nada explica ou justifica a caixa preta que o envolve. A não ser que se tenha como objetivo infantilizar ou imbecilizar o cidadão-contribuinte.

Neste momento, um fato é citado por economistas e estatísticos como possível de acontecer em três décadas: praticamente todos os trabalhadores da iniciativa privada aposentados estarão recebendo só um salário mínimo.

Das medidas recentes do sistema, nenhuma aponta benefício para o aposentado. O servidor público que entra no sistema não se aposentará mais com o salário integral. O trabalhador da iniciativa privada vai pagar um ônus monumental por viver alguns anos (quem sabe?) um pouco acima da média passada, por causa do Fator Previdenciário. Os reajustes acima do salário mínimo não garantem sequer a reposição das perdas inflacionárias.

E, como as eleições passaram, este assunto será esquecido por mais quatro anos, pelo menos. A caixa preta continuará fechada até que tenhamos um governo popular.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.